Título: AES vai pulverizar ações da Eletropaulo
Autor: Coimbra, Leila
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Empresas, p. B11

O grupo americano AES pretende pulverizar na Bolsa de Valores de São Paulo até 37,8% do capital total da maior distribuidora de energia do país em termos de receita, a Eletropaulo. Com a operação, que prevê uma oferta secundária de ações preferenciais classe B da Eletropaulo, a AES pretende captar R$ 1,26 bilhão. Os recursos serão usados pelo grupo para antecipar em sete anos o pagamento de uma dívida de US$ 582 milhões com o BNDES, fruto da aquisição da própria Eletropaulo.

Apesar da redução da participação no capital da distribuidora paulista de energia, a AES permanecerá no controle da concessionária paulista por meio da holding Brasiliana (onde o BNDES é seu sócio).

Hoje a AES possui 68,8% da Eletropaulo, sendo 37,84% por meio da Transgás e 30,97 % via AES Elpa. O objetivo é pulverizar ações da Transgás suficientes para a captação dos R$ 1,26 bilhão necessários para pagar a dívida, ou, dependendo do preço que os papéis atingirem, até o limite do capital total da Transgás. A empresa não divulgou uma data para que aconteça a operação, mas é certo que deverá esperar esse período de turbulência passar.

Os papéis preferenciais classe B terão os mesmos direitos das ações ordinárias. Os minoritários terão direito a um "tag-along" de 100% na conversão, ou seja, poderão trocar suas ações preferenciais A pelas novas de classe B pelo mesmo valor que os controladores terão direito.

A proposta inclui ainda um enxugamento da estrutura acionária da AES no Brasil. Será criada uma outra holding, a Nova Brasiliana, que absorverá os ativos da Transgás e da Brasiliana.

O capital da Energia Paulista e da AES Elpa será reduzido para absorção de seus respectivos prejuízos acumulados, com base nos balanços patrimoniais referentes a 31 de dezembro de 2005. Serão mantidas no organograma as empresas operacionais, como AES Tietê, Uruguaiana e Eletropaulo, mas as companhias sem função operacional deverão ser extintas.

Participam como coordenadores nessa operação os bancos Itaú e J.P. Morgan; além do Credit Suisse, que é o líder.

Essa é mais uma das etapas de uma "operação de limpeza" que a AES está fazendo no Brasil, desde 2004, quando conseguiu renegociar sua dívida com os principais bancos credores. Em 2002, a AES deu um calote e deixou de pagar o BNDES e um sindicato de 29 bancos privados, por incompatibilidade entre a sua geração de caixa, abalada pelo racionamento de energia, e o vencimento concentrado de dívidas naquele período.

Há duas semanas, a Eletropaulo anunciou a antecipação do pagamento total da dívida de R$ 2,3 bilhões renegociada em março de 2004 com os 29 bancos privados. A última parcela, de R$ 235 milhões, será quitada com o lançamento de R$ 300 milhões em Cédulas de Crédito Bancário (CCB). Com a operação, a companhia irá antecipar em dois anos o fim da amortização da dívida total, que foi fruto de longa renegociação.

Foi acertado com os credores que a dívida seria quitada em quatro parcelas, sendo a última com vencimento em dezembro de 2008. Com a medida, a Eletropaulo, além de antecipar o pagamento da dívida, reduziu os custos financeiros dessa amortização e ainda cumpriu a estratégia de alongamento do perfil de endividamento. Houve, com o lançamento dos CCB, uma redução de R$ 600 milhões no total da dívida líquida, que terminou o primeiro trimestre em R$ 4,4 bilhões.

Depois dessa extensa renegociação com os credores, o vencimento médio das dívidas da Eletropaulo passou de 2,86 anos em 31 de dezembro de 2004, para 3,81 anos em 31 de março de 2006. No prospecto enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa afirma que a "operação limpeza" conseguiu compatibilizar a amortização de dívida foi com a expectativa de geração de caixa da concessionária. "Acreditamos que a melhora de nossa estrutura de capital, juntamente com a nossa forte geração de caixa, nos permitirão distribuir dividendos aos acionistas no futuro ", diz o documento da AES.