Título: Acordo na Grécia alivia tensão e bolsas sobem
Autor: Machado , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2012, Finanças, p. C2

A Grécia deu fôlego novo às ações do setor financeiro na segunda-feira, ao afastar o risco de um "default" iminente de sua dívida. Embora as dúvidas sobre a real condição de o país implementar medidas fiscais mais rigorosas não tenham se dissipado por completo, principalmente em meio à revolta da população, os investidores respiraram mais aliviados e foram às compras nas principais bolsas de valores.

A Bovespa, em dia de exercício de opções sobre ações, seguiu o script global e seu principal índice avançou 2,67%, para 65.691 pontos, se desvencilhando rapidamente da marca de pior pregão do ano vista na sexta-feira. Papéis de bancos tiveram desempenho significativo, assim como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos.

As units do Santander subiram 3,49% e terminaram cotadas a R$ 18,10, as ações PN do Itaú Unibanco tiveram ganho de 3,17%, para R$ 37,45 e as PN do Bradesco avançaram 1,46%, a R$ 31,32.

As ações do setor financeiro foram a principal alta entre dez grupos do S&P 500, enquanto o índice de bancos gregos.FTATBNK decolou 12% após a votação do pacote fiscal pelo Parlamento do país.

Também o custo do seguro contra um possível default de dívidas soberana e corporativa na Europa apontou melhora na confiança dos investidores. O índice Markit iTraxx SovX Western Europe de credit default swaps (CDS) de 15 governos recuou pela primeira vez em quatro dias. Leilões de bônus da Alemanha e da Itália testaram o apetite dos mercados.

Analistas não descartam que o alívio deste início de semana dê espaço a alguma apreensão nos próximos dias, até que os líderes dos partidos políticos da Grécia confirmem por escrito seu compromisso com o programa de reformas. O porta-voz do governo, Pantelis Kapsis, disse que essa garantia deve ser entregue até amanhã, antes de um encontro de ministros de Finanças da zona do euro em Bruxelas, que decidirá sobre a liberação de um novo resgate financeiro.

Para o estrategista-chefe de ações da BlackRock, Bob Doll, os problemas de dívida da Europa não têm solução rápida e devem manter os mercados financeiros em ritmo de "risk on/risk off" por algum tempo.

"Acreditamos que o Banco Central Europeu (BCE) precisa expandir mais seu balanço, como parte de um esforço geral para deixar a crise sob controle. Mas essas questões não podem ser resolvidas por uma ação sozinha de banco central e as autoridades eleitas precisam avançar com seus pacotes de resgate", avaliou Doll.

A aprovação tira do caminho a incerteza para liberação de mais uma tranche do FMI para ajudar a Grécia a lidar com as dívidas de curto prazo e ganhar tempo para se enquadrar à realização dos novos pacotes fiscais, diz o estrategista da Santander Corretora, Leonardo Milane. "A conjuntura da zona do euro mudou, embora estruturalmente a situação permaneça ruim. Os países estão conseguindo ganhar tempo para mostrar se seus pacotes de austeridade fiscal e reaquecimento das economias surtem efeito, e para reduzir seu endividamento e cumprir as obrigações de curto prazo. Não é que a situação esteja resolvida, mas a conjuntura mudou."

Segundo ele, se os próximos dados econômicos continuarem positivos, o mercado seguirá na tendência de alta, embora não no mesmo ritmo. O mesmo vale para a atuação compradora do estrangeiro, que o estrategista considera sustentável, ainda que perca força no decorrer dos próximos meses.

Na Bovespa, a recuperação das ações da Petrobras - um dos carros-chefes do pregão - ajudou a impulsionar os ganhos. Os papéis PN subiram 3,66%, para R$ 24,36 enquanto os ON exibiram alta de 2,93%, para R$ 25,99 depois do tombo na sessão anterior provocado pelo resultado financeiro decepcionante.

Gol PN subiu 9,85%, para R$ 13,60 a maior valorização do pregão. O Morgan Stanley liderou com folga a posição líquida compradora dos papéis, seguido pelo Citigroup e pelo Credit Suisse. O próprio Morgan Stanley retomou a cobertura das ações da Gol com recomendação "overweight" (desempenho acima da média de mercado) e vendo um potencial de valorização de 37% em 12 meses. A avaliação se baseia na relação atrativa de oferta/demanda do setor aéreo, com uma projeção de crescimento do tráfego de 5% e uma capacidade estável.

Além disso, segundo fonte ouvida pela "Bloomberg News", a companhia aérea contratou o banco J.P. Morgan Chase para acertar reuniões com investidores em bônus a partir de hoje e pode vender bônus perpétuos em dólares após os encontros.

As ações da Redecard, sob os holofotes desde que o Itaú Unibanco anunciou a intenção de compras os papéis que estão em mercado, tiveram um pregão mais apático desta vez. Redecard ON terminou estável a R$ 36,10, depois de seu conselho de administração indicar uma lista tríplice para que os acionistas minoritários escolham a instituição que fará o laudo de avaliação do fechamento de capital. Credit Suisse, Bank of America Merrill Lynch e Rothschild & Sons são as opções.

O preço sugerido pelo Itaú Unibanco para a operação foi de R$ 35 por ação. O BofA Merrill Lynch estabeleceu preço-alvo de R$ 34 para a ação da Redecard em 22 de novembro do ano passado, e o Credit Suisse definiu R$ 35 no último dia 2, segundo informações no site da Redecard.