Título: Investimento cresce forte com máquinas importadas
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Brasil, p. A3

Mérida Medina, economista do IPEA: produção doméstica de máquinas e equipamentos está perdendo espaço para bens de capital produzidos no exterior O investimento pode crescer este ano acima dos 5,8% projetados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No ano passado, cresceu apenas 1,6% pois as expectativas foram abortadas pela alta dos juros. Mérida Herasme, que calcula as projeções do investimento para o Ipea, acredita que há condições do investimento continuar crescendo até o final do ano, ancorado principalmente na retomada da construção civil e nas inversões em projetos de infra-estrutura.

"O crescimento do primeiro trimestre foi muito forte, a questão é saber se esse ritmo será mantido até o final do ano. Acredito que a construção civil e máquinas e equipamentos destinados a projetos de infra-estrutura poderão puxar a taxa de investimento. As turbulências externas, caso se mantenham, poderão afetar os projetos destinados a exportação", disse Mérida.

Aparentemente, o parque industrial está renovando máquinas não é de agora e há disposição das empresas para investir em aumento da capacidade instalada, como indicou a última sondagem da FGV, observou a economista do Ipea. Mas, ela chama a atenção para o fato de que os números da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) e dados levantados pelo próprio Ipea estão indicando que os fabricantes nacionais de bens de capital não estão participando dessa festa, ou seja, dessa nova "onda" de investimento.

O que se vê pelas estatísticas é que há uma grande importação de máquinas e equipamentos por parte da indústria, substituindo as produzidas no Brasil. No primeiro trimestre esta importação cresceu 34%. Os números da Abimaq, levantados no período de janeiro a abril, mostram variações negativas no ano, com queda de 1,4% nas vendas do setor. O nível de emprego ficou estável em 0,2% . "No ano passado estes números eram mais robustos".

O faturamento nominal de máquinas e equipamentos inclui preço e quantidade de bens produzidos no país. Para Mérida, esta queda de 1,4% é um reflexo do crescimento das importações. "A produção nacional está perdendo mercado para os importados", constatou.

Os setores mais atingidos por esse processo são bens de capital mecânico, que teve redução nas vendas de 3,8%. Este segmento inclui mecânica pesada. Máquinas gráficas tiveram queda de 22% no faturamento, enquanto as máquinas e equipamentos para madeira, apresentaram taxa negativa de 48,5% e máquinas para artigos plásticos, queda de 22%. O único segmento que apresentou aumento de vendas foi o de válvulas industriais.

"Queda de preços dos bens de capital importados e câmbio valorizado explicam o crescimento das máquinas importadas", avalia a economista. A queda de preços das máquinas importadas foi de 1,05% até abril deste ano, enquanto as máquinas produzidas no Brasil tiveram uma alta de 3% no primeiro bimestre do ano. "Com isto, o produto nacional perde sua competitividade", constata Mérida.

Ela acredita que o "efeito China" tem parte nessa equação, pois nos primórdios do plano Real, quando o câmbio estava bem valorizado, as importações de bens de capital, em 1994, cresceram em média mais de 50%, mas a produção nacional cresceu 30%. Ou seja, o cambio valorizado da época não inibiu a produção interna