Título: Investimento europeu no Brasil vai aumentar, diz dirigente austríaco
Autor: Pedroso,Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2012, Brasil, p. A2

Apesar da crise na zona do euro, os investimentos das companhias europeias no Brasil não serão afetados, ainda que a cautela esteja presente entre os investidores. A avaliação é do terceiro homem na escala de poder da Áustria, Christoph Leitl, presidente da Câmara Federal de Economia do país.

"Os investimentos para o Brasil devem aumentar, pois há uma condição essencial: demanda. O país está crescendo, assim como o consumo. Em tempos de crise os investidores ficam mais cautelosos, mas as condições gerais são promissoras", disse em entrevista ao Valor.

Na semana passada, Leitl chefiou uma delegação de empresários austríacos no Brasil, que estiveram no país com a intenção de aumentar a presença de investimentos e produtos. No ano passado, a corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 1,89 bilhão, com a Áustria responsável pela venda de US$ 1,47 bilhão a brasileiros. Entre os recados que Leitl transmitiu nas conversas com empresários e autoridades do governo, "reclamou" da insistência com que no Brasil se fala em crise.

"Eu não vejo crise hoje. Eu vejo desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) europeu. Crise houve em 2009, quando o PIB diminuiu. Nós temos problemas, sem dúvida, mas Portugal e Grécia não dominam a economia da UE. Eles perderam suas indústrias e a capacidade de competir. Espanha e Itália, por exemplo, estão reagindo, mantendo suas indústrias. Eles precisam de investimentos, mas vão voltar a crescer", disse Leitl. "Nós não vamos cair. O perigo é o sistema financeiro, que precisa ser estabilizado e ter regras."

Um exemplo do maior apetite pelo mercado brasileiro é a entrada de investimentos de países europeus no país. No ano passado, os austríacos colocaram US$ 1,5 bilhão no Brasil. O número é maior que o investimento alemão, por exemplo, que alcançou R$ 1,1 bilhão, segundo dados do Banco Central. Já a soma de capitais ingleses, italianos, espanhóis, e franceses alcançou R$ 14,9 bilhões.

Para evitar que novas crises voltem a atingir a zona do euro, Leitl defende que o mercado financeiro mundial seja regulado pelo G-20, o que significa presença do Brasil, entre outros emergentes. "Aprendemos em 2009: o mercado precisa de regras e punições para quem as infringe em um âmbito global", avalia o dirigente austríaco.

"Se aqueles que foram eleitos democraticamente não fizerem isso, as crises irão se repetir. Não podemos bancar outra crise, não temos mais dinheiro para isso, por isso precisamos evitar que elas aconteçam. Todo mundo tem interesse nisso, exceto dois países: Estados Unidos e Reino Unido", diz Leitl.

Interessado em ampliar o comércio não só da Áustria com o Brasil, mas de todo o continente europeu, Leitl lembrou que há cinco anos, em 2006, a União Europeia fez previsão de dobrar a corrente de comércio com a América Latina em cinco anos - e isso aconteceu.

"Todo mundo achou que não iria funcionar na época, mas passamos de €100 bilhões para € 200 bilhões. Estou otimista com o futuro. Sei que o Brasil está reclamando que a balança comercial não é favorável ao país, mas minha resposta é: invista nos seus produtos e melhore a competitividade", aconselha o presidente da Câmara Federal de Economia da Áustria.