Título: Aécio é o candidato mais óbvio de uma oposição rouca, diz FHC
Autor: Agostine,Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2012, Política, p. A10
Em uma cobrança indireta a seus correligionários, o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, reclamou da falta de disposição e de entusiasmo da oposição para buscar um discurso forte para contrapor-se ao governo federal. Segundo o ex-presidente, pior do que as vozes oposicionistas com "decibeis insuficientes para comover as multidões" está o fato de essas vozes estarem "roucas" ou "preferirem sussurrar". Ao enviar o recado à oposição, FHC disse que o senador Aécio Neves (MG) é o "candidato mais óbvio" do PSDB para disputar a sucessão presidencial em 2014.
Segundo o ex-presidente, fazer oposição tornou-se um ato de contrição, depois que o país entrou em uma fase de crescimento econômico a partir de 2004.
FHC disse que "falta a chama de um ideal" aos oposicionistas ao governo Dilma Rousseff. "Hoje, o que queremos? Ganhar as eleições? Mas para quê? Eis o enigma", escreveu no artigo "Crer e perseverar", publicado no domingo no jornal "O Estado de S. Paulo".
No texto, Fernando Henrique deu destaque à pré-candidatura de Aécio Neves à Presidência, em 2014, por conta da "posição eleitoral dominante" de Aécio em Minas e de "seu estilo de fazer política". Ao falar sobre o senador tucano, no entanto, FHC fez ressalvas: disse que ele está em fase de teste e questionou se Aécio vai conseguir fazer com que seus discursos "saltem o muro do Congresso". "Vai se arriscar a dizer as verdades inconveniente, e aparentemente custosas eleitoralmente, para que o povo sinta que existe "outro lado" e confie nele para abrir perspectivas melhores?", questionou.
Sobre o ex-governador José Serra, derrotado na disputa presidencial em 2010, FHC disse que o tucano falhou ao se comunicar com a população. Em sua análise, Serra adotou um discurso preso às demandas indicadas pelas pesquisas de opinião, em detrimento à suas convicções. "Se o candidato tivesse expressado com mais força as suas convicções, mesmo desconsiderando o que as pesquisas de opinião indicavam ser a demanda do eleitorado, poderia ter sensibilizado as massas", apontou.
Aécio Neves disse ontem que sente estimulado pelo ex-presidente a disputar a eleição presidencial de 2014. "É claro que reconheço isso como um estímulo a uma possível candidatura. Tenho conversado muito com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Suas análises são sempre, ou devem ser sempre, ouvidas e aprofundadas", disse ontem após reunião com o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), e com o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB).
Ao comentar as avaliações de Fernando Henrique, Aécio disse que concorda com a orientação do ex-presidente para que os tucanos afiem um discurso que sirva de contraponto ao do governo federal. Mas rejeitou o ponto de vista do ex-presidente para quem as vozes oposicionistas estão com "decibeis insuficientes para comover as multidões" e "roucas" ou "preferirem sussurrar".
"Tenho divergência a essa visão", disse Aécio. "A oposição tem se manifestado com extrema firmeza em relação a todas essas denúncias que ocorreram de malfeitos dentro do governo, da inépcia do governo do ponto de vista da gerência; o exagero do governo na ocupação de cargos públicos; a dificuldade do que é partidário do que é privado; a interferência polícia no Banco do Brasil, na Petrobras; essa questão ainda sem esclarecimento envolvendo a Casa da Moeda; aquela nebulosa transação da Caixa Econômica Federal com o banco PanAmericano, para não citar outros desatinos." E continuou: "Então é um governo frágil do ponto de vista gerencial."
Para Aécio, a presidente "perdeu" o primeiro ano de governo "sem que nenhuma reforma estrutural fosse enviada ao Congresso sequer para discussão e o governo tem uma maioria extraordinária."
O PSDB, disse ele, repetindo o que tucanos têm dito desde o governo Lula, "tem que pensar agora a voltar a falar para a sociedade, apontar caminhos novos para o Brasil, mostrar o que nos diferencia do atual governo."