Título: Quércia adere à antecipação da convenção do PMDB
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Política, p. A9

Quércia e Lula: "Temos de levar em conta, na medida em que ele oferece a Vice-Presidencia e que é um candidato em condições de ser reeleito" Depois de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, o ex-governador Orestes Quércia decidiu patrocinar a antecipação para o dia 11 de junho da convenção do PMDB que vai definir sobre a candidatura própria do partido. Além da vice-presidência na chapa do PT para um pemedebista, Lula propôs a Quércia uma aliança política em São Paulo, a participação da sigla no grupo que vai definir o programa de governo para o segundo mandato e a integração imediata e efetiva do PMDB no governo. Entre dirigentes do partido fala-se na indicação de pelo menos seis ministros, antes mesmo das eleições de outubro. A expectativa do governo é que a antecipação sepultaria as chances de candidatura própria do partido, 12 dias antes da definição da chapa petista à Presidência.

Quércia condicionou o prosseguimento das negociações à definição do PMDB sobre a candidatura presidencial própria, e admitiu que uma aliança nacional entre as duas siglas favoreceria eventual entendimento em São Paulo. "Temos de levar em conta, na medida em que ele oferece a Vice-Presidencia e que é um candidato em condições de ser reeleito", disse Quércia, à saída do encontro. "Evidentemente que há interesse político do PMDB em avaliar essa questão com muita simpatia".

Do Planalto, onde ainda teve uma conversa com o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), Quércia almoçou com o senador Pedro Simon (RS), pré-candidato do PMDB a presidente, e foi ao Congresso onde conversou com o senador José Sarney (AP), um dos principais aliados de Lula dentro do PMDB. Em seguida, procurou o presidente da sigla, deputado Michel Temer, para informar que reuniria nove diretórios regionais a fim de pedir uma reunião da Executiva Nacional para antecipar a data da convenção, inicialmente marcada para 29 de junho.

A data marcada estava sendo questionada na Justiça pelos aliados de Simon e do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. Muito embora Quércia diga que a tendência de São Paulo é apoiar a candidatura de Simon, hoje a tendência do PMDB é no sentido de o partido ficar sem candidato. Com a definição no dia 11, a sigla poderá negociar com o governo antes da convenção do PT que homologará a chapa de Lula, prevista para o dia 23, e antes mesmo da convenção do PMDB paulista, no dia 24.

Quércia falou a Lula sobre as dificuldades do PMDB para fechar uma coligação formal, por causa da verticalização. Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros, também defendem que a sigla não deve participar da chapa, mas apoiar o presidente. O maior temor dos governistas é que o governo, ao abrir negociação formal falando na vice e em participação no governo, leve o grupo que antes defendia a candidatura própria a voltar à posição original - uma aliança tácita entre os dois grupos é que levou o partido a abrir mão da candidatura própria em sua última convenção.

O PMDB já negociou aliança com PSDB, PFL - ou tem no PT o seu principal adversário - em pelo menos nove Estados, os mais importantes: Pernambuco, Santa Catarina, Acre, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Alagoas e Distrito Federal. No Rio, Garotinho já anunciou que deve apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), e em Mato Grosso o partido deve se aliar ao governador Blairo Magi, que também declarou apoio a Alckmin. No Paraná, Roberto Requião não é obstáculo à eventual aliança. Há conversas em outros 12 Estados com o PT, mas ontem Quércia surpreendeu ao avaliar as chances de se coligar com o PSDB em São Paulo: "Eu acho inviável", disse o ex-governador, por causa da oposição feita por setores do PSDB a um acordo. Recentemente, a viúva do ex-governador Mário Covas, dona Lila, condenou o eventual entendimento dos tucanos com Orestes Quércia.

Enquanto Quércia procurava os dirigentes pemedebistas, no Planalto o ministro Tarso Genro conversava com Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho (PMDB-PA). Sobre a aliança com o PT em São Paulo, foi menos enfático: "Sem uma aliança nacional, fica mais difícil".

Tarso Genro demonstrou muito mais otimismo. Após conversar com Renan, Jader e Sarney, o ministro da coordenação política resumiu sua expectativa em uma frase: "PMDB com Lula para governar o país, com ou sem coligação". Para o ministro da coordenação política, mesmo que o PMDB não indique o vice na chapa de Lula, ele vai participar da elaboração de diretrizes de programa para um segundo mandato. "É necessário para a governabilidade do país uma aliança sólida, um espécie de compromisso histórico do PT com o PMDB, para formar uma frente de centro-esquerda para governar o país".

Genro reconheceu ainda que uma ala do PMDB resiste à coligação formal com Lula. Mas aposta que as rodadas de conversas que o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP) vem mantendo com os possíveis aliados podem auxiliar no convencimento de Temer. "Evidentemente, essa reunião entre o PT, o PSB e o PCdoB, provavelmente vai levar ao Temer algum diagnóstico, alguma proposta, algumas diretrizes para essa composição. Mas isso não quer dizer que a direção nacional do PMDB já tenha posição negativa ou positiva sobre o assunto", admitiu.

Uma reunião entre os presidentes do PT, PSB e PCdoB, que deveria ter acontecido ontem para começar a redigir a nova Carta ao Povo Brasileiro foi adiada para terça-feira. O documento apontará os compromissos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um eventual segundo mandato. Na ocasião também será discutida a aliança dos três partidos em torno da candidatura de Lula.

O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) disse que a conversa de ontem foi adiada justamente porque o PSB ainda está fechando os dados para apresentar amanhã para o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). O secretário-geral do PSB, deputado Renato Casagrande (ES), acrescentou que também houve problemas de agenda.

"Temos que fazer um bom inventário. São muitos os problemas nos Estados", afirmou Albuquerque. Ele cita sete Estados em que o PSB ainda espera o apoio do PT para que a coligação nacional seja fechada. São eles: Pernambuco, Amapá, Goiás, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais e São Paulo. (Com agências noticiosas)