Título: Candidatura em suspenso
Autor: Campos, Ana Maria; Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2010, Cidades, p. 23

Surpreso com o fato de o Supremo não ter chegado a uma decisão sobre seu caso, Joaquim Roriz afirma que continua na disputa pelo Governo do Distrito Federal. Ele se reúne hoje com assessores para definir novas estratégias de ação

Sem autorização do Supremo Tribunal para disputar estas eleições nem previsão de retomada do julgamento na alta Corte, a candidatura de Joaquim Roriz (PSC) permanece sub judice e corre o risco de não conseguir alterar o cenário que se coloca com a instabilidade vivida no grupo azul. Apesar do eleitorado cativo e de o ex-governador ter recuperado votos nas últimas pesquisas, cada dia de insegurança jurídica favorece o adversário Agnelo Queiroz (PT), que lidera as sondagens. Após o encerramento da sessão do STF ontem, Roriz afirmou, por meio de assessores, que ficou surpreso, mas permanece como concorrente ao Buriti. Ele se reúne hoje com advogados e coordenadores de campanha para definir novas estratégias de ação.

A nove dias das eleições, Roriz não tem um plano B compatível com o tamanho do desafio de fazer um sucessor em meio a um desgaste que ele enfrenta na Justiça desde quando pediu registro de sua candidatura. Qualquer um que o substitua não terá tempo suficiente para se apresentar como candidato ao Governo do Distrito Federal. Daqui até 3 de outubro, restam três dias de programas eleitorais, perto de 50 minutos de propaganda gratuita e de inserções no rádio e na TV pouco para recuperar o patrimônio eleitoral de um grupo político dilacerado em meio às batalhas nos tribunais, iniciadas em agosto, quando Roriz teve o registro de candidatura negado pelo Tribunal Regional Eleitoral. Tal decisão foi confirmada em instância superior, mas a constitucionalidade da aplicação da norma na votação deste ano dividiu a opinião dos ministros do STF.

Enquanto Agnelo começou a campanha na condição de desconhecido para a maioria da população do DF e teve de ser introduzido em seu primeiro programa na televisão, Roriz com 50 anos de vida pública, quatro mandatos de governador e um sem número de denúncias dispensou apresentações. Deu a largada na campanha com a vantagem de pinçar ações que agradaram sua base eleitoral para pedir mais uma chance em outubro. Até meados da campanha, conseguiu manter a liderança nas pesquisas.

Possíveis sucessores A inconsistência da candidatura do ex-governador, no entanto, abalou seu potencial de votos. E Roriz começou a perder apoio. Ao mesmo tempo, a campanha de Agnelo ganhou musculatura com a assistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal garoto propaganda destas eleições. Pesquisa do Instituto CB Data encomendada pelo Correio Braziliense mostra que o petista mantém vantagem de cinco pontos percentuais em relação a postulante do PSC. Agnelo tem 35% das intenções de voto contra 30% dos potenciais eleitores do ex-governador.

A liderança do PT é, de acordo com a simulação, insuficiente para uma vitória em primeiro turno, o que esticaria o debate para uma segunda fase, se Roriz permanecer no páreo. Caso o ex-governador seja substituído, aumenta a potencialidade de votos de Agnelo. Entre os possíveis sucessores de Roriz estão uma das filhas do ex-governador Jaqueline ou Liliane Roriz ou o vice na chapa, Jofran Frejat (PR). Um reserva destacado do grupo mais próximo do ex-governador ainda pode, mesmo que a hipótese seja remota, provocar um segundo turno na corrida ao Palácio do Buriti.

Se a disputa se encaminhar para uma segunda etapa, Agnelo ainda estará em situação de vantagem, mas crescem as chances de recuperação da coligação de Roriz, que terá condições de direcionar a campanha ao concorrente escolhido para representar o ex-governador nas urnas. A campanha petista, por sua vez, vai insistir na tese de que o líder do grupo adversário é ficha suja, enfoque com influência entre os eleitores, já que o tema ainda não foi superado no Supremo. Em contra-ataque, Roriz adotará a condição de vítima e apelará à sua base por uma redenção política por meio da eleição dele próprio, se o Supremo o liberar até 3 de outubro, ou de um nome indicado, caso venha a ser barrado pelos ministros.

Colaborou Noelle Oliveira

Jaqueline Roriz Filha do meio do ex-governador Joaquim Roriz, Jaqueline lançou-se na política nas eleições de 2006, quando foi eleita distrital pelo PSDB. Atualmente filiada ao PMN, ela disputa uma vaga de deputada federal. A família Roriz pretende preencher o espaço que ela desocupará na Câmara Legislativa com outra integrante do clã Roriz, a caçula Liliane, que concorre a uma das 24 vagas pelo PRTB.

Jofran Frejat Médico-cirurgião, o vice de Joaquim Roriz passou boa parte de sua carreira política no comando da Secretaria de Saúde, cargo que ocupou em quatro ocasiões. Deputado federal em seu quinto mandato, abriu mão da reeleição na Câmara para integrar a chapa do ex-governador de quem é muito próximo. Tem baixo índice de rejeição na cidade, um dos motivos que o tornam uma alternativa para suceder Roriz.