Título: Dilma Rousseff acompanha o leilão em tempo real e evita comemorar
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2012, Empresas, p. B8

De seu gabinete, a presidente Dilma Rousseff acompanhou em tempo real os leilões de concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Brasília. O resultado superou as melhores expectativas do governo federal. Os três empreendimentos são responsáveis pela movimentação de 30% dos passageiros e 57% da carga do transporte aéreo nacional.

Os grupos vencedores vão desembolsar R$ 24,5 bilhões pela concessão, valor que superou as estimativas para o ágio do leilão fornecidas a Dilma pelo ministro da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, Wagner Bittencourt. Pelas contas do Executivo, o leilão já deveria ser considerado um sucesso se arrecadasse R$ 20 bilhões. O negócio foi realizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em São Paulo.

A presidente, porém, evitou demonstrar satisfação com o resultado. Questionada por jornalistas sobre as concessões, Dilma sinalizou que agora as atenções devem ser centradas na gestão e nos investimentos dos grupos vencedores. "Vocês sabem como é governo: faz uma etapa e tem que fazer todas as outras. Agora, tem que fazer com que isso [outras etapas] ocorra. Ou seja, administração eficiente dos três aeroportos", disse, após a cerimônia de posse do novo ministros das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP).

A declaração da presidente indica que o governo deve evitar alimentar a disputa política que cerca o tema das privatizações e concessões de ativos públicos à iniciativa privada. Apesar de o assunto ter marcado presença nas últimas campanhas eleitorais e provocado uma série de trocas de ataques entre PT e PSDB, o governo considera que a concessão será essencial para aumentar a capacidade dos três aeroportos e fará com que o Brasil supere um de seus principais gargalos do setor de infraestrutura.

A Infraero, estatal que administra os aeroportos do país, terá uma participação minoritária nas empresas que vão assumir os três empreendimentos leiloados.

Não foi apenas o ágio de até 673,39% que surpreendeu o governo. Os nomes que venceram o leilão também trazem uma boa dose de novidade. Até semana passada, os consórcios liderados pelas empreiteiras Odebrecht, Queiroz Galvão e CCR figuravam como os preferidos para levar as concessões. Nenhumas delas venceu, o que, por tabela, deixou de fora do negócio gigantes internacionais como a Changi, operadora do aeroporto de Cingapura; e a Ferrovial, que administra Heathrow.

Com o resultado, a gestão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília passará para as mãos de companhias da África do Sul, França e Argentina, respectivamente. A Airport Company South Africa (ACSA), sócia da Invepar em Guarulhos, traz no currículo a operação de nove aeroportos, entre ele o de Tambo, em Johannesburgo; Cape Town, na Cidade do Cabo; King Shaka, em Durban; East London e Kimberley, na África do Sul. Em Viracopos, a operação ficará a cargo da francesa Egis Avia, companhia que está presente em 11 aeroportos, como Costa do Marfim, Gabão e Congo. Brasília passa para as mãos da Corporación América, da Argentina, cuja experiência na América Latina inclui três aeroportos em seu próprio país (Argentina 2000, Bahía Blanca e Neuquén), dois no Uruguai, dois no Equador (Guayaquil e Galápagos) e um no Peru (Andinos del Perú). (Colaborou Bruno Peres)