Título: Haja cifra por um gabinete
Autor: Vaz, Lúcio
Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2010, Política, p. 8

Os valores das doações registradas na Justiça Eleitoral mostram que custa muito caro eleger um deputado federal. As chances são maiores para quem tem um bom caixa de campanha. O total da contribuições dos 6 mil candidatos a uma vaga na Câmara chega a R$ 303 milhões.Mas as 513 campanhas mais caras somam R$ 244 milhões, uma média de R$ 477 mil por candidato, o que mostra a concentração dos recursos emuma minoria. A arrecadação de 43 candidatos já superou R$ 1 milhão. O dinheiro necessário para fazer uma campanha bem estruturada varia de estado para estado. Proporcionalmente, é mais caro fazer política em Goiás. Ali, o custo médio das 17 campanhas mais caras (corresponde ao número de vagas na Câmara) ficaemR$ 787 mil.

O Correio fez um levantamento nos 26 estados e no Distrito Federal a partir da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sempre considerando o número de vagas da cada estado na Câmara. Em São Paulo, o valor médio das 70 campanhas mais caras ficou em R$ 734 mil.

Surpreendem os estados do Centro-Oeste.Mato Grosso,Mato Grosso do Sul e Goiás ficam entre os cinco colégios de campanhas mais caros.Minas é o terceiro, com média de R$ 572 mil.

Nos estados mais pobresdoNorte e do Nordeste, a média das campanhas mais elevadas fica em torno de R$ 200 mil.

O campeão de arrecadação é o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que recolheu R$ 2,7 milhões, mas gastou só R$ 1 milhão. Ele diz que investe mais em despesas com pessoal e impressos. É isso que dá voto, explica.Quem gastou muito afirma que o valor da campanha é esse mesmo.

E vai ficar ainda maior. Os dados disponíveis no TSE são relativos apenas aos primeiros 60 dias de disputa.

CarlosAlberto Leréia(PSDB-GO) já arrecadou R$ 1,3 milhão, ma garante que a sua campanha ficará em R$ 3 milhões. A minha campanha é toda por dentro.

Não existe campanha barata. Isso é conversa para boi dormir.

Pode investigar, que tem caixa dois. Ele explica o motivo de tantos gastos: O custo mais alto é com pessoal. Tem também o material gráfico. Qualquer adesivo é R$ 1. Antes, tinha o show.

Agora, tem que contratar gente para distribuir material. O horário daTV é voltado para candidatos a presidente e a governador.

Candidato proporcional, se quiser ter voto, é dessa maneira.

Consulta Antes de se lançar como candidato a deputado, o empresário Wilson Picler (PDT-PR) fez uma pesquisacommarqueteiros e consultoresparasaberquantoiria gastarnacampanha.

Oseucaixa já estáemR$ 2,4 milhões, sendo R$ 2,3 milhõesdopróprio bolso.Esse éo valor real.Todos os consultores falaram isso.Mas vou prestar conta de tudo. Eu estou participando da política tentando fazer tudo correto, massofro muito, reclama.

Entre as campanhas mais caras, estão as de outros grandes empresários, como SandroMabel (PR-GO),Wellington Salgado (PMDB-MG) e Eduardo da Fonte (PP-PE). EmMinas, o empresário carioca Wellington Salgado (PMDB-MG) aplicou, do próprio bolso, R$ 1,7 milhão na tentativa de conquistar uma cadeira no parlamento. Suplente do senador Hélio Costa (PMDB-MG), Salgado teve uma passagem longa pelo Senado. Conhecido pelas entrevistas polêmicas, concedidas quando era da tropa de choque de Renan Calheiros (PMDB-AL), Salgado evitou falar sobre sua contabilidade de campanha.

Estreante na política, o advogadoBernardo Santana (PR-MG), filho dodeputado federal veterano José Santana (PR-MG), declarou uma receita parcial de R$ 1,5 milhão.

Diretor do Grupo Rima Industrial, firmalíderemvendas de ligas à base de silício e única produtora de magnésio primário do hemisfério sul, Bernardo não bancou a própria campanha. Recebeu tudo de terceiros. O gasto maior foi com publicidade de materiais impressos: R$ 251 mil.

Colaborou Ezequiel Fagundes