Título: Trégua externa anima dólar e juro
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Finanças, p. C2

As duas fontes atuais de inquietação do mercado financeiro - as pesquisas de intenção de voto às próximas eleições presidenciais e a turbulência no cenário externo - deram uma trégua ontem, permitindo ao dólar retomar a tendência de queda, após duas altas seguidas, e aos juros futuros a de baixa. A pesquisa CNT/Sensus mostrou o que o mercado queria ver: o pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho quase não se mexeu. As mudanças relativas às posições de Lula e Alckmin - o primeiro caiu e o segundo subiu - tanto faz, já que o importante são as indicações de que o segundo turno será disputado por eles, e não por um deles e Garotinho. Os sinais vindos do mercado externo também foram positivos: os juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano cederam de 4,95% para 4,93% e o barril do petróleo subiu apenas US$ 0,24 no especulativo pregão da Nymex, para US$ 68,98.

-------------------------------------------------------------------------------- Após dois dias em alta, dólar cai a R$ 2,14 --------------------------------------------------------------------------------

A trégua ampliou o fluxo de dólares para o Brasil. Mas não há mais a torrente de capital que afogou o câmbio em março. O investidor externo está muito seletivo e cauteloso. Tanto que o Tesouro só conseguiu vender 31,93% da oferta total de NTN-B, títulos públicos indexados ao IPCA prediletos dos estrangeiros isentos de impostos. Da oferta de 2 milhões de papéis, colocou apenas 638,5 mil. Mesmo assim, a juros mais elevados. O papel com vencimento mais curto, em maio de 2009, saiu a 9,40%, e o mais longo, com resgate em maio de 2045, a 8%. Um pouco antes de deixar a secretária do Tesouro Nacional, Joaquim Levy comemorou juro levemente acima de 7% para o título longo.

O dólar, em sintonia com a baixa de dois pontos do risco-país, para 244 pontos-base, chegou a cair 0,88%, a R$ 2,1380. Mas o Banco Central não deixou que afundasse mais. Fez leilão de compra às 15h15 e enxugou o excesso de moeda ao aceitar 17 propostas, a R$ 2,1420. E o dólar fechou a R$ 2,14, em desvalorização de 0,78%.

Apesar de o mercado monetário ter retomado o viés de baixa, o pregão de juros futuros da BM&F nem sequer está se protegendo contra a hipótese de o Copom do BC, que volta a se reunir na semana que vem, aumentar a dose do desaperto monetário. A queda da inflação corrente e as expectativas mais otimistas para a inflação futura não conseguem encorajar o DI futuro. As apostas são de que o Copom irá reduzir a Selic no mesmo ritmo de 0,75 ponto da reunião passada, para 15,75%. O CDI previsto para a virada do mês cedeu de 16,11% para 16,08%. O contrato para a virada do ano recuou de 14,99% para 14,92%. O rumor que percorreu as mesas de operações durante a manhã, segundo o qual o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua - o avalista-mor da ortodoxia monetarista - estaria demissionário foi completamente ignorado.