Título: Brasil fixa prazo para revisão de acordo com México
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2012, Brasil, p. A2

O governo brasileiro quer terminar em no máximo um mês as negociações com o México, para revisão do acordo automotivo entre os dois países, na qual se discute a redução do saldo negativo para o Brasil no intercâmbio bilateral.

Autoridades brasileiras e mexicanas terminaram ontem uma rodada de discussões, sem acordo, mas decidiram fazer nova reunião para negociações, nos próximos dias. O Brasil, que ameaça romper o acordo, pede maiores exigências de conteúdo nacional para carros exportadores pelo México e inclusão de veículos como caminhões com menos de 5 mil toneladas, excluídos originalmente.

Foi pouco produtiva a reunião dos técnicos nesta semana, que teve pelo lado brasileiro o subsecretário-geral de América do Sul do Itamaraty, Antônio Simões, e a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, e pelo lado mexicano, Francisco de Rosenzweig, subsecretário de Comércio Exterior da Secretaria de Economia, e Rogelio Granguillhome Morfin, representante da Secretaria de Relações Exteriores

Os mexicanos, já antes da chegada da missão negociadora a Brasília, divulgaram nota lembrando que, embora se queixe de déficit no comércio bilateral, o Brasil, desde a entrada em vigor do acordo, em 2003, acumulou "notável superávit", que soma cerca de US$ 10 bilhões nos últimos nove anos.

O déficit total do setor, em 2011, chegou a US$ 697 milhões. Com exceção dos automóveis comerciais leves, que provocaram déficit de quase US$ 1,56 bilhão em 2011, todos os outros segmentos do setor automotivo ainda geram superávit ao Brasil, especialmente o de autopeças, com saldo positivo de US$ 672 milhões, segundo dados do governo brasileiro.

As autoridades brasileiras afirmam que há disposição no México para negociar mudanças no acordo automotivo, apesar da nota do governo mexicano, que atendeu às preocupações dos fabricantes locais de automóveis, autopeças, caminhões e ônibus.

Ao fim da reunião de ontem, membros do governo brasileiro que, na véspera, reclamavam da falta de autorização para negociar por parte da missão mexicana, já se mostravam otimistas. Mas o Itamaraty decidiu não divulgar nota sobre a continuidade das reuniões.

O acordo automotivo permite o intercâmbio de veículos partes e peças sem cobrança de imposto de importação. Mas, por considerá-lo "desequilibrado", a presidente Dilma Rousseff chegou a orientar o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, a informar aos mexicanos a intenção de denunciá-lo - cancelar o acordo, o que é permitido, desde que se avise com antecedência de 14 meses.

O governo já tinha preparado um comunicado anunciando o fim do acordo, na segunda-feira, quando, após críticas das montadoras instaladas no país e um telefonema do presidente mexicano, Felipe Calderón, Dilma admitiu abrir espaço para negociações.