Título: R$ 300 bi em CDBs
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Eu & Investimentos, p. D1

Ainda animado pela expansão do crédito bancário e por um alto volume de recursos que os investidores vêm destinando para as aplicações financeiras, o crescimento dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) continua em 2006, apesar do ritmo menos frenético. O volume do estoque registrado na Cetip, que era de R$ 281,7 bilhões no início de janeiro já superou a marca dos R$ 300 bilhões no primeiro trimestre e ontem já chegava a R$ 302,9 bilhões. Segundo dados da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), a captação via CDBs atingiu R$ 14,2 bilhões no primeiro trimestre. Um volume ligeiramente abaixo dos cerca de R$ 18 bilhões registrados pelo Banco Central no mesmo período de 2005, sendo que, em todo o ano passado, os CDBs captaram R$ 60 bilhões.

Embora em termos absolutos os números dos CDBs continuem robustos, a comparação com os fundos de investimento sugerem um menor apetite pelos títulos bancários. Os fundos tiveram captação recorde no trimestre, de cerca de R$ 40 bilhões - segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

Uma parcela dos recursos aportados em CDBs provavelmente está vindo dos próprios fundos, que estão recebendo muito dinheiro e precisam comprar mais ativos para dar lastro às carteiras, avalia o presidente da BB DTVM, Nelson Rocha Augusto. "Não é o ritmo do CDB que diminuiu, o dos fundos é que aumentou muito", observa. Em fevereiro, a parcela dos fundos aplicada em CDBs correspondia a cerca de R$ 80 bilhões, segundo a Anbid.

Para o executivo, a compra de dólares dos exportadores pelo BC, injetando reais na economia, pode ser um dos fatores que explica a farta captação nos produtos de investimento, além de uma migração entre ativos.

No primeiro semestre do ano passado, os CDBs concorreram pesadamente com os fundos de investimento com taxas atrativas inclusive para o cliente de varejo, diz Marcelo Giufrida, vice-presidente da Anbid. "Mas foi um movimento provocado pela explosão do crédito consignado, que demandava muita captação dos bancos", explica Giufrida. Agora, depois da carteira constituída, ele espera uma pressão menor dos bancos e menor concorrência dos CDBs.

Para os especialistas, a trajetória de queda gradual dos juros, que já vem ocorrendo desde o ano passado, tem levado os investidores para aplicações de risco um pouco maior, como fundos multimercados e mesmo para a renda fixa prefixada, que tende a ganhar com o movimento de queda das taxas.

As rentabilidades também são atraentes nos fundos. Segundo dados do site Fortuna, os fundos curto prazo renderam 3,53% no primeiro trimestre. No mesmo período, os fundos DI tiveram ganho médio de 3,89% e a renda fixa alcançou retorno de 4,07%. O CDI foi de 4,04%. Já os CDBs tiveram rentabilidade líquida média de 3,42% de acordo com a Andima.

Pelos dados da Anbid, os segmentos de renda fixa e de multimercados foram os que tiveram mais captação no primeiro trimestre, respondendo, juntos, por cerca de 70% do total. "Houve um movimento forte de realocação de ativos neste primeiro trimestre", observa Edinardo Figueiredo, superintendente executivo do BankBoston. "Muitos clientes deixaram os fundos DI e o CDB para migrar para produtos de maior risco, como os multimercados e ações".

Ele avalia que, desde o ano passado, o CDB passou a ser um produto mais difundido e estratégico para muitas instituições. "Muitos bancos precisam captar para expandir a carteira de crédito e optam pelo CDB, por isso o produto acabou ficando com taxas mais competitivas e mais acessível para investidores de menor porte", diz.

Segundo Marcos Villanova, superintendente executivo do Bradesco, o movimento no segmento de CDBs foi normal no primeiro trimestre. Ele lembra que, com a meta do banco de continuar crescendo no crédito, o CDB continua sendo um produto estratégico. No entanto, afirma que o perfil do cliente é o principal fator de direcionamento do produto escolhido. Ele diz que existe um movimento de realocação de ativos, mas que ainda é pontual na instituição. "Tem se falado muito na queda da taxa de juro, as pessoas tendem a buscar um pouco mais de rentabilidade, isso faz com que se perceba alguma migração, mas ainda não é tanto", afirma.

Antônio Teixeira, superintendente da Cetip, lembra que também na câmara têm crescido o registro de cotas de fundos. No início de janeiro, o volume do estoque das cotas na Cetip era de R$ 262,9 bilhões e agora esse valor já chega a R$ 326 bilhões, ou seja, superou o montante do estoque de CDBs. "Os dois segmentos, CDBs e cotas de fundo, foram os que mais cresceram nos últimos meses e tendem a continuar registrando uma expansão muito grande", prevê Teixeira. Para ele, no segundo semestre, quando a passagem do estoque anterior à outubro de 2004 estará completa e sem a incidência de CPMF, o CDB deverá começar a crescer em ritmo mais acelerado. (Colaborou Angelo Pavini, de São Paulo).