Título: Credores privados estão tendo mais boa vontade com a Varig, diz Bottini
Autor: Leo, Sérgio e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Empresas, p. B3

No dia em que o presidente Lula reafirmou a disposição do governo federal de não ajudar a Varig financeiramente, o presidente da aérea, Marcelo Bottini, disse que as empresas de leasing, credoras da companhia, estão tendo mais boa vontade do que o próprio governo federal. "Isso é fato. Eles (as empresas de leasing) têm se mostrado muito mais abertos nas negociações do que o governo", afirmou Bottini, depois de participar ontem de uma reunião do Aerus para ratificar a nomeação do novo presidente do fundo de pensão, Ricardo Lodi Ribeiro.

Na saída Bottini lembrou que a Varig tem deixado de pagar de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões por mês pelo aluguel das aeronaves. "O problema é que daqui a pouco eles vão dizer: 'eu estou aqui te ajudando e o seu governo não te ajuda, por que vou te ajudar?' Ele acaba cansando", desabafou.

Bottini cobrou da União um aceno favorável no que diz respeito à suspensão do pagamento de taxas e serviços durante o período de baixa temporada (abril, maio e junho). Ele disse que na última reunião com representantes do governo, na semana passada, colocou que a Varig tem feito o que chamou de "dever de casa" aprovando, por exemplo, o plano de recuperação judicial e repactuando a dívida com os credores.

E mostrou também que a Varig produz ao ano em divisas para o Brasil, só de venda de passagens no exterior, cerca de US$ 1 bilhão. "Isto tem valor para o governo? Se ele disser que sim, então vamos sentar junto e ver como ele pode influenciar todos os participantes da negociação (credores). Se você dá um aceno de que a Varig é importante para o Brasil, todos se colocam em linha", afirmou.

O presidente da Varig disse ainda que nos últimos quatro meses, a aérea reduziu rotas, acabou com diretorias no exterior e cancelou o vôo para o Japão. Bottini afirmou que até agora não foi notificado oficialmente da decisão da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de vetar o acordo operacional entre a Varig e a OceanAir.

O presidente Lula convocou os principais funcionários do governo envolvidos nas negociações com a Varig para uma reunião amanhã, no Palácio do Planalto. Lula se disse preocupado especialmente com o impacto social da perda de 11 mil postos de trabalho. Ele espera receber um diagnóstico completo da crise e das implicações do eventual fechamento da Varig sobre o setor aéreo. O diagnóstico está sendo elaborado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Durante seis dias, desde 5 de abril, a Varig deixou de repassar à Infraero as taxas de embarque recolhidas dos passageiros no momento da emissão de bilhetes. A estatal alertou à diretoria da companhia que isso caracteriza o crime de apropriação indébita e comprometia ainda mais o relacionamento da aérea com o governo. Após o aviso, a Varig depositou ontem R$ 9 milhões na conta da Infraero, informou o presidente da estatal, José Carlos Pereira.

Segundo ele, a Varig não fez nenhum pagamento das tarifas aeroportuárias (navegação, pouso e permanência) que está há mais de sete meses sem recolher. Diante das manifestações ocorridas ontem em Brasília, por funcionários da empresa aérea, Pereira prestou solidariedade. "Expressamos ao ministro da Defesa a nossa profunda preocupação com o futuro de mais de 10 mil empregos", disse o brigadeiro. Ele completou, porém, com uma forte advertência: "Todo o ambiente emocional pode terminar em lambança. A Infraero vai bloquear apelos emocionais que peçam concessões sem amparo da lei".

Pereira refere-se principalmente ao pedido de carência, até o fim de julho, no pagamento de tarifas aeroportuárias da Varig. A proposta foi feita pelo presidente da empresa, Marcelo Bottini, e ganhou apoio dos funcionários que participaram da marcha em Brasília. O brigadeiro entregou ontem um memorando ao Ministério da Defesa e ao Tribunal de Contas da União (TCU) com todas as ações tomadas pela Infraero contra a companhia.

A estatal pode adotar a qualquer momento a cobrança, à vista e em cada aeroporto, das tarifas da Varig. Com isso, os passageiros podem ser impedidos de embarcar nos vôos cujas taxas a companhia aérea se recusou a pagar. As decolagens precisam de autorização da Infraero.