Título: Pirataria vai além de CDs, DVDs e softwares
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Empresas, p. B4

De todas as roupas vendidas no país, 29% são versões falsificadas das marcas originais. Dos brinquedos comercializados, 24% são imitações dos sucessos infantis. Dos tênis, 16% são "genéricos" dos ícones da moda. E quem consome toda essa pirataria não é só a classe baixa. Muitas pessoas de alta renda compram, embora nem sempre assumam. Cerca de 77% dos consumidores brasileiros admitem já ter adquirido algum produto pirata nestas categorias.

Considerando-se apenas os três segmentos - roupas, brinquedos e tênis -, a pirataria representa uma perda de R$ 23 bilhões ao ano no faturamento das indústrias nacionais. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Ibope para o Instituto Dannemann Siemsen (IDS), a Câmara de Comércio dos Estados Unidos e o Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (seção americana).

"É uma compra consciente, intencional, justificada pelo preço que pode ser até 75% menor na versão pirata", diz José Henrique Werner, conselheiro do IDS. Segundo ele, o objetivo da pesquisa é mostrar para as autoridades que os altos índices de pirataria vão além dos CDs, DVDs e softwares, categorias para onde estão focadas as ações de repressão.

"Centenas de outras categorias sofrem com a pirataria no Brasil", afirma. Segundo estimativa feita a partir do levantamento do Ibope, o país deixa de arrecadar R$ 12,8 bilhões ao ano em impostos por causa da falsificação nos segmentos de roupas, brinquedos e tênis.

A pesquisa foi feita nos três maiores centros de consumo do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. De acordo com Werner, existe hoje uma preocupação especial com a capital mineira, que está virando um pólo de distribuição de produtos pirateados para outras regiões do país. "Com o aumento da repressão em mercados como São Paulo, o crime organizado foi para Belo Horizonte."

Foram entrevistados consumidores com idade acima dos 16 anos. Entre os mineiros, 84% compram sempre ou já compraram pelo menos uma vez produtos piratas. Entre os cariocas, este índice é de 78%. Entre os paulistanos, 69%.

Dos brasileiros que compraram produtos falsificados nos últimos 12 meses, apenas 36% alegam não saber diferenciar a versão original da imitação. Em São Paulo, 70% dos entrevistados disseram que sabiam identificar as cópias. Em Belo Horizonte, 67% sabiam a diferença. Apenas 55% dos entrevistados cariocas reconhecem as fraudes.

Segundo a pesquisa, o impacto da pirataria de roupas, brinquedos e tênis para a indústria paulista é uma perda de, no mínimo, R$ 1,8 bilhões no faturamento anual. Para a indústria fluminense, a estimativa de perda é de R$ 470 milhões. Na indústria mineira, R$ 436 milhões. Para as três capitais pesquisadas, o prejuízo com o não-recolhimento de impostos na venda pirata também é grande. São Paulo perde pelo menos R$ 720 milhões por ano. O Rio deixa de arrecadar R$ 188 milhões anuais. A capital mineira, R$ 174 milhões por ano.

Os dados serão levados ao Conselho Nacional de Combate à Pirataria e às autoridades municipais e estaduais ligadas à repressão. Os patrocinadores da pesquisa, entre eles a fabricante de brinquedos Mattel, esperam que os resultados contribuam para o planejamento das ações de repressão.