Título: Governo estuda aumentar o IOF
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Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2010, Economia, p. 16

O governo já admite a hipótese de aumentar a tributação sobre os investimentos estrangeiros para conter a entrada de dólares no país.

Uma das medidas em estudo é dobrar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide na aplicação de recursos no mercado financeiro, hoje em2%. Ontem, os dois principais membros da equipe econômica, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BancoCentral (BC),HenriqueMeirelles, evitaram falar em números, mas confirmaram que impor uma taxa maior é uma das armas possíveis no arsenal para debelar o fortalecimento do real.

Preocupado com os efeitos do vazamento de uma eventual decisão de elevar o IOF, que poderia estimular os investidores a ingressarem logo com o dinheiro no país, deprimindo ainda mais a cotação do dólar a curto prazo, Mantega se apressou em negar a intenção. Ontem, numa rápida entrevista na frente do ministério, assegurou que não está prevista nenhuma alteração do IOF no momento. Ao mesmo tempo, entretanto, deixou claro que o instrumento tributário continua no cardápio do governo para atacar a valorização do real frente ao dólar, o que prejudica o desempenho das exportações.

Cada problema tem uma maneira de resolver e eu não descarto nenhum mecanismo.Mas não há a iminência da utilização de nenhum deles, garantiu. Como exemplo de iniciativas possíveis para intervir no câmbio, o ministro citou a continuidade da compra da divisa norte-americana pelo BC e pelo Fundo Soberano, as operações da autoridade monetária no mercado futuro e a elevação da alíquota do IOF.Orecurso a umdos instrumentos deve ocorrer caso os mercados se comportem com excessos inadequados, disseMantega. Segundo ele, o descontrole já pode ser observado no segmento cambial.

Ação coordenada Dooutro lado doAtlântico, numa ação coordenada,Meirelles também admitiu a possibilidade de incremento da tributação. O Brasil já temumataxa sobre os ingressos de capital de 2%. Isso é sempre uma possibilidade em aberto, sempre algo que pode ser usado, disse em Londres. Segundo ele, a persistente apreciação do real pode erodir a competitividade do país e levar à ampliação do deficit das contas externas, o que poderia se tornar uma fonte de problemas a longo prazo.

Na avaliação de Meirelles, alguns países enfraquecem deliberadamente suas moedas para conseguir vantagens no comércio exterior. Esse é umproblema muito sério, que deve ser enfrentado. Não é necessariamente uma guerra. O Brasil não vai pagar o preço, ressaltou. Anteontem, Mantega havia se referido a uma guerra cambial.Meirelles quer que a cúpula do G-20, que reúne as 20 maiores economias do mundo, discuta o tema.

O encontro será em novembro emSeul, Coreia do Sul.

Ontem, o diretor-gerente do FundoMonetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, não descartou a possibilidade de uma guerra, mas afirmou que é improvável que ela ocorra.OFMI vai discutir formas de evitar uma batalha globalembusca da maior depreciação para obter ganhos comerciais. Não se pode esperar nada bom de uma intervenção no câmbio. A história mostra que o efeito desse tipo de medida não dura muito, afirmou.