Título: PT já busca alternativa à aliança com Kassab
Autor: Agostine,Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2012, Política, p. A10

O PT mudou a estratégia na disputa pela Prefeitura de São Paulo e já trabalha com a possibilidade de ir às urnas sem o apoio do PSD do prefeito Gilberto Kassab. A sinalização de que o ex-governador José Serra (PSDB) pode concorrer ao governo municipal e que o PSD o seguiria colocou em alerta a cúpula petista, que passou a desconfiar da fidelidade prometida pelo PSD ao governo da presidente Dilma Rousseff.

A direção do PT dá como certa a candidatura de Serra e o consequente apoio de Kassab ao tucano, apesar de líderes do PSD garantirem nos bastidores que o prefeito paulistano "não voltará atrás" em relação à aliança em torno do pré-candidato petista Fernando Haddad.

Para minimizar os atritos, Kassab reuniu-se ontem com a presidente Dilma, em Brasília, em um encontro marcado em cima da hora (ver reportagem nesta página). Na segunda e na terça-feira, o prefeito procurou a direção do PT paulista e disse não acreditar na candidatura de Serra, pois o tucano não teria lhe contactado.

A cúpula petista, no entanto, não acreditou no argumento do prefeito e começou a articular uma nova estratégia para a campanha de Haddad. Ontem, o assunto foi discutido em reunião da Executiva estadual da sigla.

O PT mostra-se preocupado com a possibilidade de o tucano vencer a disputa municipal, fato que levaria o PSD da base governista para a oposição ao governo federal. O partido tem uma das maiores bancadas da Câmara, com 47 deputados federais e, junto com o PSDB, com 52 deputados, e o DEM, com 27 parlamentares, formaria um bloco de oposição com 126 deputados, um quarto da Casa. "Mudaria tudo no Brasil", comentou um líder petista.

O PT classifica a relação de Kassab com Serra como "umbilical". O prefeito foi vice do tucano na disputa pela capital, em 2004, e assumiu a prefeitura em 2006, quando Serra deixou o cargo para disputar o Estado. Kassab chama sua gestão de "Serra-Kassab".

Dentro da legenda, o PT se dividiu em duas frentes que tentam influenciar os rumos do partido na capital e mesmo a opinião de Haddad sobre a conveniência de uma aliança com o PSD. De um lado, os favoráveis à parceria com Kassab alegam que a parceria seria estratégica, pois desarticularia a oposição e abriria caminho para a vitória na disputa estadual em 2014 - o PSDB governa o Estado desde 1995. Defendem essa tese o prefeito de São Bernardo do Campo e ex-ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o presidente estadual do partido Edinho Silva e os deputados federais Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido.

Já o grupo contrário à aliança - que conta com os deputados federais Carlos Zarattini, Paulo Teixeira, Ricardo Berzoini, o deputado estadual e presidente nacional Rui Falcão e boa parte do diretório municipal - enumera uma série de motivos pelos quais a aproximação com Kassab seria prejudicial ao partido.

Oposição ao governo Kassab durante toda sua gestão, esses petistas alegam que o partido ficaria sem um discurso consistente para oferecer à população na eleição, pois teriam de defender um governo que sempre criticou e está mal avaliado. Como a disputa municipal é uma eleição de contato mais próximo com os eleitores, a militância precisaria atuar com disposição nos bairros, ainda mais para vender um candidato desconhecido do grande público, e só faria isso se concordasse com o projeto. No mais, Haddad é visto no PT como um bom nome para conquistar um público mais conservador e de classe média, mas precisaria do apoio firme da senadora Marta Suplicy para adentrar as classes mais baixas. E Marta já declarou não querer "acordar de mãos dadas com Kassab".

Outro aspecto temido por vereadores petistas é que uma eventual coligação se estenda às candidaturas proporcionais. O PSD tem pelo menos 14 bons nomes para a vereança e poderia atrapalhar o plano dos petistas, que pretendem eleger algo como 15 vereadores. Se os dois partidos estivessem na mesma chapa, a conta ficaria prejudicada e o número de petistas eleitos seria menor.

Na manhã de ontem, Haddad esteve no sindicato dos Comerciários de São Paulo. Apesar de estar na companhia do presidente da central União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, - filiado ao PSD - Haddad seguiu a linha de raciocínio dos petistas contrários à aliança e afirmou que já trabalhava com essa hipótese. "Desde sempre colocávamos esse como o cenário mais provável. Kassab tinha hierarquizado suas prioridades e colocou Serra como sua primeira opção", disse.

Ao comentar a apresentação de propostas para a cidade durante a campanha, Haddad aproveitou para alfinetar Serra, referindo-se à campanha presidencial de 2010. "Tivemos algumas eleições recentes que deixaram uma marca ruim na política. Quem não consegue fazer uma campanha positiva não deveria nem entrar [na disputa]. Nós não faremos isso, preservaremos a biografia dos nossos concorrentes", afirmou.

Terminado o evento, Haddad seguiu para uma reunião com o publicitário João Santana, cotado para fazer sua campanha.