Título: Graziano critica rolagem das dívidas
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Agronegócios, p. B16

O ex-ministro José Graziano, recém-empossado diretor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura na América Latina, fez ontem duras críticas à prorrogação das dívidas prevista no pacote agrícola de R$ 9 bilhões anunciado pelo governo na semana passada. "[O pacote] ...traz insegurança ao sistema de crédito rural. Se não tem garantia de que [o empréstimo] será pago, ninguém mais vai querer emprestar", afirmou ao Valor. "Não se monta um sistema dessa forma".

Contumaz crítico de renegociações gerais de dívidas agrícolas, o ex-assessor especial do presidente Lula disse que o pacote de socorro ao setor rural tem um custo importante para o Tesouro Nacional. "Há muitos recursos do Tesouro envolvidos nessas renegociações. Isso é dinheiro do contribuinte". O pacote rolou R$ 7,7 bilhões em débitos de investimento e custeio. Mas o benefício pode superar R$ 14 bilhões, estima o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Coincidência ou não, o pacote negociado durante quase 40 dias por Rodrigues com a equipe econômica do governo só foi anunciado após a saída de Graziano da assessoria direta de Lula, em 10 de março. A bancada ruralista apontava o ex-auxiliar do presidente como o principal opositor das soluções para o campo.

Em reunião de encerramento do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), Rodrigues voltou a afirmar que o governo anunciará, em três semanas, novas medidas "estruturais" para a desoneração de tributos (PIS-Cofins), queda de alíquotas de importação de insumos e a ampliação do seguro rural e do sistema de "drawback" agrícola.

"Teremos novidades em breve". Ao mesmo tempo, o governo costura um acordo político com líderes de setor rural para editar uma medida provisória que permita rolar novamente mais R$ 7,7 bilhões em dívidas vencidas nos programas de securitização, recuperação das cooperativas (Recoop) e de saneamento de ativos (Pesa), repactuadas entre 1995 e 2001.

Em mais uma demonstração de que deixará o cargo em dezembro, Rodrigues recusou a presidência do CAS, um direito do Brasil a partir de junho. Os ministros do conselho aprovaram a extensão do mandato do atual presidente, o ministro boliviano Hugo Salvatierra, até janeiro de 2007. "Não faz sentido assumir a liderança porque haverá mudanças no ministério", disse. "O presidente terá outras demandas políticas para resolver". Para Rodrigues, sua missão está "praticamente cumprida".