Título: Brasil recupera espaço que tinha em 1985
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Brasil, p. A3

O Brasil obteve em 2005 sua maior fatia no comércio global em 20 anos, com quase 1,2% do total das exportações de mercadorias, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). "O Brasil só fez melhor em 1985, com fatia de 1,3%", disse Michael Finger, um dos principais economistas da entidade. Na classificação apresentada ontem, o país ganhou uma posição entre os principais exportadores mundiais, ficando em 23º lugar, e duas entre os importadores, indo para o 27º posto.

Segundo Finger, o aumento da fatia brasileira no comércio global, que tem valores expressos em dólar, foi impulsionado pelo forte preço de algumas matérias-primas, como minério de ferro (72%), café (42%) e açúcar (33%).

A expansão das exportações brasileiras foi de 23%, inferior aos 34% do ano anterior, mas quase quatro vezes maior que o ritmo do comércio global. O aumento das vendas brasileiras só foi menor que as da China (28%) e de três produtores de petróleo: Rússia (34%), Emirados Árabes Unidos (36%) e Noruega (25%).

O comércio internacional de mercadorias cresceu 6% no ano passado, inferior aos 9% do ano anterior. Para este ano, os economistas da OMC prevêem expansão de 7% do volume do comércio de mercadorias, baseando-se num crescimento de 3,5% da economia mundial (3,3% em 2004). Economistas da entidade destacaram que o comércio internacional voltou a crescer desde meados de 2005, mas as incertezas persistem para este ano.

Eles destacaram como principais riscos a possibilidade da desaceleração da demanda nos EUA ser maior devido à alta dos juros e do custo da energia. Embora a situação financeira das empresas tenha melhorado e veja sinais de ambiente mais favorável aos investimentos, a OMC nota que persiste uma fragilidade no consumo privado e no emprego, sobretudo na Europa.

Os economistas da entidade não excluem novas altas do preço do petróleo, notando que o preço do barril atingiu novo pico no primeiro trimestre e supera em 10% a média de 2005.

O valor das exportações mundiais de mercadorias aumentou 13% e superou os US$ 10 trilhões pela primeira vez. As exportações de serviços (transportes, viagens etc) aumentaram 11%, chegando a US$ 2,4 trilhões. A parte de combustíveis e de minérios no comércio internacional de mercadorias alcançou 16%, o nível mais alto desde 1985. Já a parte dos produtos agrícolas nas exportações mundiais desceu a um nível sem precedentes, de 9%.

Isso se explica pelos preços. Os de combustíveis aumentaram 35%. Já os dos produtos agrícolas só cresceram 2%, e de manufaturas 3%, menos que no ano anterior. Os preços de minerais e metais não-ferrosos subiram cerca de 25%.

No setor de manufaturas, as exportações de produtos siderúrgicos e químicos tiveram a maior alta em valor. Os produtos eletrônicos não tiveram o papel dinâmico que tinham nos anos 90. O comércio de têxteis e confecções cresceu abaixo da média, apesar da liberalização com o fim de cotas.

As trocas mundiais ocorreram num ano em que o euro, a libra esterlina e o iene japonês se desvalorizaram em relação ao dólar americano. Por sua vez, moedas de alguns exportadores de recursos naturais, como Brasil, Austrália, Canadá, Chile e México se valorizaram entre 3,5% e 17%.

Uma surpresa para os economistas da OMC é a situação na China. O país continuou crescendo cerca de 10%, mas as importações de petróleo estagnaram. Em contrapartida, aumentaram bastante as importações de material de telecomunicações e de máquinas elétricas. O ritmo de expansão das importações chinesas caiu pela metade, a 11,5%. Já o ritmo das exportações continuou bastante elevado, suficiente para os economistas preverem que a China pode tomar em breve o lugar da Alemanha como primeiro exportador mundial. Os alemães exportaram US$ 970 bilhões, 9,3% do total mundial, enquanto os chineses venderam US$ 762 bilhões (7,3%).

A América do Sul e a América Central registraram em 2005 não apenas a maior expansão nas vendas de mercadorias, por volta de 25%, como também a maior progressão no comércio de serviços em comparação ao resto do mundo. A explicação é um crescimento econômico vigoroso, a alta dos preços dos produtos de base, além de apreciação cambial.

África e Oriente Médio também alcançaram suas maiores fatias nas exportações de mercadorias nos últimos 20 anos.