Título: Brasileiro disputa comando de agência que pleiteia maior controle da internet
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Brasil, p. A3

O governo Luiz Inácio Lula da Silva entrou em nova disputa para obter a direção de uma agência das Nações Unidas, depois da derrota pela conquista da Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano passado. O objetivo agora é conquistar o principal cargo da União Internacional de Telecomunicações (UIT), organização que já se propôs a administrar a internet em lugar dos Estados Unidos.

O candidato brasileiro é Roberto Blois, numero dois da entidade desde 1998. Ele concorre com candidatos da Alemanha, Suíça, Jordânia, Mali e Tunísia. A reunião anual do conselho da entidade, semana que vem, será importante para os países medirem forca, checando apoios aos candidatos e fazendo alianças para a eleição que ocorrerá em novembro, na Tunísia.

A UIT é a mais antiga organização internacional. Foi fundada em 1870 e ocupa-se das normas técnicas para telefone, telex, satélite, rádio e televisão. Mas está claro que a entidade, para sobreviver, terá de se ocupar de outras questões envolvendo tecnologia de ponta. Nesse cenário, vários países, incluindo o Brasil, querem um orgão multilateral para administrar a rede mundial de computadores, em substituição à Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), fundação americana sob contrato com o Departamento de Comércio dos EUA.

Embora a Icann deva se separar formalmente do governo em setembro deste ano, os EUA não aceitam dividir o controle do sistema de endereços da internet, que permite que computadores do mundo inteiro se comuniquem entre si. Quem controla o "root zone file" na prática controla o acesso aos sites na web. Vários países reclamam que os EUA têm o poder de cortá-los da rede, bloqueando o sufixo.

A atual direção da UIT se declarou pronta a servir como órgão internacional para tratar das questões da rede mundial de computadores. Mas os EUA dizem que isso só vai burocratizar a rede. No Brasil, há duas tendências no governo - os que apóiam a UIT e outros que gostariam de ver a criação de uma entidade independente.

Em todo caso, o interesse brasileiro é forte pela entidade, e Blois é dado como o candidato mais forte. Ao contrario da campanha pela OMC, que resultou em fiasco, a de Blois vem sendo preparada há vários meses. Ele é apoiado pelo grupo "Americas", que reúne todos os países do hemisfério, incluindo EUA. Os europeus estão divididos.

O processo de escolha na UIT pode favorecer o brasileiro. Em outras organizações internacionais, os países elegem o diretor-geral e este escolhe a diretoria. Na UIT, a votação é para cinco cargos (secretário-geral, vice e três diretores), o que altera as alianças.

Além disso, o Brasil considera ter direito a dirigir agências da ONU, porque é o décimo maior contribuinte da ONU, e está sem cargo de direção desde a aposentadoria de Rubens Ricupero na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) e da morte de Sergio Vieira de Melo, que era representante da ONU no Iraque. (AM)