Título: Michelle Bachelet e Lula defendem missão no Haiti
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Brasil, p. A3

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, afirmou ontem, durante solenidade no Palácio do Planalto, que o Brasil merece uma vaga no Conselho Permanente de Segurança da Organização das Nações Unidos (ONU). Bachelet também reforçou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu a permanência das tropas de paz no Haiti até que o país retome o caminho da democracia.

"O Haiti nos pediu ajuda e não podíamos negar. Negar apoio seria algo contra à nossa vocação latino-americana e caribenha", confirmou a presidente chilena, após reunião de trabalho com o presidente brasileiro, nesta sua primeira visita de Estado ao Brasil.

As forças de paz da ONU no Haiti são comandadas pelo diplomata chileno Juan Valdéz e pelo general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira. "O país (Haiti) avança na constituição de um governo democrático, em ambiente de respeito aos direitos fundamentais. Não trabalhamos com prazos, mas sim com objetivos: a responsabilidade da comunidade internacional não termina com a retirada das tropas", reiterou Lula.

No campo das relações bilaterais, Lula e Bachelet assinaram acordos para formar uma Comissão Mista Permanente nas áreas energética, geológica e de mineração. Firmaram ainda um instrumento de cooperação técnica na área de meio ambiente e um acordo para facilitar a residência de cidadãos de ambos os países no âmbito do Mercosul. "Defendemos acordos comerciais e programas mais ambiciosos de integração física e energética. Quem sabe não podemos sonhar com um mercado regional de energia? Mas devemos avançar gradualmente", resumiu a presidente chilena..

O encontro, no qual Lula ressaltou a importância da eleição de uma mulher para comandar um país latino-americano, não livrou o presidente brasileiro de um enorme constrangimento antes da cerimônia. Ao encaminhar-se à rampa do Planalto para recepcionar Michelle Bachelet, Lula deparou-se com uma ruidosa manifestação de servidores públicos federais em greve, sacudindo bandeiras, tocando buzinas e assoprando apitos. Assim que Lula surgiu, foi vaiado pelos manifestantes.

Incomodado, o presidente olhava constantemente para o relógio, aguardando Bachelet. Empolgados, os servidores entoaram frases de protestos. "Ô Lula, cadê você, cadê o aumento e o PCC", gritavam, em referência ao plano de cargos e carreiras. A manifestação começou a ficar mais ostensiva. "O povo, na rua, Lula a culpa é sua", antecedeu ao samba de Jorge Aragão, com o refrão: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Gritos e buzinas abafaram a execução do hino nacional.

Em discurso no Congresso, Bachelet defendeu que os governos da América Latina e do Caribe aprofundem os investimentos em políticas sociais como forma de garantir a estabilidade política e a democracia na região. "As democracias têm de ser capazes de entregar os bens que a sociedade espera de nós", disse ela. (Com agências noticiosas)