Título: As eleições e a economia
Autor: Castelar, Armando
Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2010, Opinião, p. 19

Os analistas políticos parecem concordar que a economia terá grande influência no resultado das eleições deste ano. Emespecial, a liderança da candidata oficial nas pesquisas de intenção de voto é atribuída à satisfação do eleitor com obommomento da economia, com o PIB crescendo mais de 7% este ano, o desempregoemníveis historicamente baixos e a inflação relativamente sob controle.

Paradoxalmente, porém, o eleitor irá este fim de semana às urnas sem ter visto uma discussão mais séria sobre o que os candidatos pensam fazer para garantir que, apesar do cenário externo conturbado, o país tenha bom desempenho econômico no próximo quadriênio. Há três grandes questões que deveriam estar sendo tratadas.

A primeira delas refere-se à manutenção do tripé de política macroeconômica estabelecido no governo FHC: câmbio flexível, meta de inflação perseguida por um Banco Central operacionalmente autônomo e metas fiscais, emespecial para o superávit primário.

Há uma presunção de que o eleito, quem quer que seja ela ou ele, será obrigado a adotar essa política, sob risco de geraruma crise e perder sustentação política.

Esse argumento é apenas parcialmente válido. Por exemplo, a disciplina fiscal foi bem maior no primeiro mandato do presidente Lula do que no segundo, quando os dois principais indicadores acompanhados pelo mercadoo superávit primário e a dívida líquida do setor públicoperderammuito de sua significância, a partir da adoção de mecanismos que descolaram os valores contábeis de seu impacto econômico, sem que o mercado esboçasse qualquer reação. Esses mecanismos continuarão a ser utilizados se a candidata oficial for eleita?Da mesma forma, o principal candidato de oposição já afirmou que pretende reduzir a autonomia do Banco Central; quais as implicações disso? Pode-se ainda perguntar o que pensam os candidatos a respeito da meta de inflação, estacionada há anos em 4,5%, e que vários economistas defendem que deva ser reduzida para algocomo2%ou 3%. A candidata do PV parece a mais confortável com a manutenção do tripé na sua forma original, mas estará ela disposta a reduzir gradualmente a meta de inflação? Uma segunda questão concerne a trajetória explosiva dos gastos públicos, que há anos crescem cercadodobrodoPIB, e o seu corolário, a elevada carga tributária, que também não poderá deixar de aumentar enquanto não secolocarumfreioàexpansãodogasto.Apolítica fiscal expansionista, agora marcadamente pró-cíclica, é umdas principais causas do alto juro básico que caracteriza a economia brasileira e da apreciação cambial observada nos últimos anos.

Esse mix de política econômicaimpostos elevados, juros altos e câmbio apreciado compromete a competitividade da indústria brasileira e ajuda a explicar porque o setor vem perdendo participação no PIB.

O que pensam os candidatos sobre isso? A candidata oficial já expressou sua visão de que não há necessidade de ajuste fiscal, e no passado se manifestou contrariamente a controles sobre a expansão do gasto, mas estará ela igualmente confortável com o aumento da carga tributária e a valorização do real? O candidato do PSDB tem histórico de contenção de gastos correntes nas suas administrações em São Pauloirá ele repetir issoemnível federal? Um terceiro, não menos relevante, tema diz respeito às reformas que o país necessita para tornar-se mais competitivo e, em especial, promover o investimento.

Como se sabe, o crescimento brasileiro está limitado pela nossa baixa taxa de investimento 17%, 16,7% e 17,5% do PIB nos últimos 16, oito e quatro anos, respectivamente , por sua vez restrita pela baixa taxa de poupança do país. O Brasil não conseguirá manter um ritmo de crescimento muito acima de 4% ao ano sem elevar essa taxa de investimento, principalmente porque, nos próximos anos, a população ocupada crescerá menos que os 2,4% ao ano observados no último sexênio.

De fato, o IBGE prevê que na próxima década a população com idade entre 15 e 64 anos irá aumentar apenas 1,2% ao ano.

Quais as propostas dos candidatos para elevar o investimento? Não surpreende que o debate eleitoral tenha focado no passado. A verdade, porém, é que os políticos a serem eleitos no próximo domingo, da Presidência da República às assembleias legislativas, não irão mudar o passado, mas comandar o país nos próximos quatro anos. É uma pena, portanto, que o eleitor tenha de escolher sem saber o que eles pretendem fazer se vierema ser eleitos.