Título: Exército pressiona amotinados
Autor: Lima ,Vandson
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2012, Política, p. A6

Em um dia sem negociações entre representantes do governo da Bahia e os amotinados da Polícia Militar, o comando de operações de segurança no entorno da Assembleia Legislativa resolveu apertar o cerco aos cerca de 200 manifestantes que permanecem há nove dias acampados no local.

O tenente-coronel Márcio Cunha, porta-voz do Exército, confirmou que a entrada de mantimentos, água e medicamentos aos amotinados foi suspensa. "O Exército não impede ninguém de comer e beber. Mas para isso eles precisarão sair da Assembleia, e se saírem não poderão retornar", alegou o tenente.

O fornecimento de energia elétrica no prédio foi interrompido e as tropas foram reforçadas. O número de homens no local passou de 1.038 para 1,4 mil e a Assembleia está cercada. Três ambulâncias estão de prontidão, caso manifestantes passem mal. O tenente afirma, no entanto, que não há qualquer plano para a invasão do local. A ideia é convencer os manifestantes a desistirem pelo cansaço.

"Não temos água, luz e não deixam mais entrar comida. Fecharam tudo aqui em volta. Infelizmente, pode ter enfrentamento", afirmou o presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), Marco Prisco, principal líder do movimento da Polícia Militar da Bahia.

Prisco conversou por telefone com o Valor de dentro da Assembleia. A proposta feita pelo governador Jaques Wagner (PT), de iniciar a implantação da Gratificação de Atividade Policial IV e V gradativamente até 2015 foi considerada insatisfatória pelo movimento, que pede a revogação dos mandados de prisão expedidos pela Justiça baiana para 12 policiais que comandam o movimento, inclusive ele.

"Queremos a revogação de todos os mandados, a GAP IV para março e a V para janeiro de 2013. Sem isso, não há acordo", afirmou. Expulso da corporação em 2002, Prisco confirma que sua reintegração ao posto foi colocada pelos amotinados como exigência para o fim da paralisação, mas que o governo sequer abriu negociação nesse sentido.

Marco Prisco voltou a afirmar que, no motim da PM baiana em 2001, Wagner e o Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia, então comandado pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, foram os principais financiadores do movimento. O atual governador era então deputado federal e opositor do governador César Borges (PFL, hoje no PR).

Em 2010, Prisco concorreu a uma cadeira de deputado estadual pelo PTC, mas com pouco menos de 10 mil votos não se elegeu. Hoje, ele é filiado ao PSDB, mas afirma que o partido não lhe deu qualquer apoio nas manifestações recentes e pretende deixar a sigla. "Estou prestes a pedir desfiliação do partido porque ninguém esteve aqui nem para perguntar como eu estava. Infelizmente o PSDB foi uma escolha minha e essa escolha será mudada", avalia.

Ontem, líderes de entidades carnavalescas cobraram das autoridades a resolução do problema, mas asseguraram que o Carnaval de Salvador vai ocorrer conforme está no cronograma. As aulas foram suspensas na maioria dos colégios de Salvador e de entidades educacionais de municípios próximos, como Lauro de Freitas. As negociações devem ser retomadas hoje.