Título: Todas as portas abertas ao PMDB
Autor: Bittar, Rosângela
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2006, Política, p. A10

Ainda que o ministro Márcio Thomaz Bastos caia - hipótese desmentida com vigor por ministros e parlamentares próximos ao presidente Lula, ontem, tal como fizeram no caso Antonio Palocci às vésperas de sua demissão - o presidente da República está decidido a não se deixar atingir pela crise política, ainda vigorosa quase um ano depois de iniciada. As pesquisas de opinião estão dando a ele a certeza de que o desgaste da sua base de apoio não o contamina, e o fim da CPI dos Correios é um marco importante para liberar o que especialistas do governo estão chamando de "energia política", para que sejam levadas adiante discussões programáticas e negociações sobre alianças.

Lula manterá a estratégia que, acredita, vem dando certo: silêncio total sobre os escândalos, dos quais mantém prudente distância física; campanha total pelo Brasil, com dedicação de longos períodos a determinadas regiões e estados - agora é São Paulo; e primeiros passos para a montagem de uma aliança para a reeleição e de um programa a ser defendido na propaganda eleitoral de televisão.

O programa será discutido a partir das propostas que os aliados naturais apresentarem. Segundo interlocutores do presidente, Lula jamais disse que não quer uma segunda Carta aos Brasileiros, prometida pelo PSB e PCdoB como contribuição ao programa. Políticos do PT andaram comentando que Lula vetaria a Carta mas, dizem auxiliares do presidente, não é verdade. Ele está pronto para receber os projetos desses partidos, aliados já definidos, e também do PT, seu partido, deve submetê-los a um grupo de ministros e especialistas para que seja feita uma análise, cada um na sua área, até que possa fazer opções por um projeto para o país, se vier a reeleger-se.

-------------------------------------------------------------------------------- O elemento chave da candidatura Lula --------------------------------------------------------------------------------

Entre os assessores a quem o presidente submeterá as propostas estão Marco Aurélio Garcia (o redator das diretrizes para elaboração de um programa de governo aprovadas pelo PT no último fim de semana) e Cesar Alvarez, da Presidência da República, e os ministros Dilma Rousseff, Luiz Dulci, Tarso Genro e Guido Mantega, que integram agora a equipe mais próxima ao presidente. Lula não adotará, na visão de seus assessores, um programa inteiro de um só partido. A este conjunto de idéias dos aliados já declarados, se somarão as dos partidos que vierem aderir na campanha da reeleição, para formar então o programa de governo. A priori, o presidente só tem uma exigência: que neste programa a questão do desenvolvimento se torne preponderante.

A política de alianças a ser retomada a partir de agora também está delineada e, tanto para o primeiro, quanto para o segundo turno, o PMDB é o elemento chave para a candidatura Lula, segundo definição do ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, coordenador político do governo.

"Não haverá polarização com o candidato do PMDB, em nenhum momento", assegura Genro. Inclusive se este candidato for Anthony Garotinho. Lula só vai disputar com o candidato do PMDB se ele for o adversário do segundo turno. Se não for, o presidente vai procurar fazer um acordo formal com o partido, ou parte dele, que deixe explícita e transparente a participação do PMDB no segundo mandato. "Se existe um partido ligado ao ciclo de desenvolvimento do país este partido é o PMDB", diz o articulador político.

Na verdade, o governo não quer mover uma palha que possa descontentar o PMDB, ou que crie constrangimentos a uma aliança com o partido em qualquer momento da campanha e depois dela, se tiver ou não candidato próprio. Torce para que não tenha, isto está claro no discurso de qualquer integrante da equipe de campanha de Lula, mas, se tiver, a ordem é cultivar relações amistosas com o PMDB.

"Se o PMDB não apresentar candidato, devemos estabelecer uma aliança clara com grupos do partido, fazer aliança formal com PSB e PCdoB, e a partir daí virão os outros que apoiarem o nosso programa", assinala Tarso Genro. O presidente se convenceu, também, que é melhor ter uma aliança formal com partidos, para que o governo possa estabelecer um relacionamento com as bancadas, depois, no Congresso, do que com regiões ou grupos isolados. Mas se, ao contrário, vingar a idéia da candidatura própria do PMDB, o governo continua querendo o partido para o segundo turno.

O diálogo com a oposição também está no horizonte do governo. "O Brasil não é governável se for incendiado, hoje tem uma base social ativa", avalia Tarso Genro. Na percepção do articulador político do governo, se Lula for derrotado no bojo de um processo eleitoral "desleal" (não por propostas e projetos, mas se lhe pregarem o carimbo da corrupção, por exemplo, segundo sua definição), "não há dúvida que o país ficará ingovernável". Mas se for derrotado por um programa, segundo esta visão o próximo governo fica legitimado. "Temos que garantir, nós, do governo, um ambiente eleitoral qualificado, para que o próximo presidente tenha legitimidade", afirma Tarso Genro.