Título: A versão externa a risco diminui
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Finanças, p. C2

Após cinco dias de tensão, o capital externo baixou a guarda ontem em relação aos mercados de risco, sobretudo o representado pelos países emergentes. Os juros dos treasuries de 10 anos subiram fortemente, de 4,92% para 4,98%, por refletirem um desmonte de operações que visavam a segurança, em detrimento da rentabilidade. Ao desmanchar o hedge, o investidor tira os seus recursos dos títulos americanos e a escassa demanda reduz o preço e acaba elevando o juro. A fuga dos treasuries foi conjugada a uma realização de lucros no mercado de petróleo. O barril fechou em queda de US$ 0,36 em Nova York, a US$ 68,62. O capital que saiu dos T-10 e do petróleo rumou para os bônus e moedas de países emergentes. O risco-país caiu cinco pontos, para 239 pontos-base. E o dólar cedeu 0,32%, para R$ 2,1330. Os juros caíram em bloco no mercado futuro da BM&F.

-------------------------------------------------------------------------------- Juros caem em bloco no mercado futuro --------------------------------------------------------------------------------

Nem as ameaças da oposição de pedir o impeachment de Lula por causa da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra 40 pessoas acusadas de formar "organização criminosa", impediram os mercados de comemorar o excelente bom humor externo. A retomada de fluxo vigoroso de capital em direção ao Brasil coloca na berlinda as elevadas posições compradas em dólar dos bancos. Em algum momento, pelo próprio efeito das entradas excessivas, a arbitragem que consiste na compra de dólar à vista e venda de dólar futuro deixará de ser interessante. É aí que mora o perigo. Na ausência de fator macroeconômico capaz de tornar defensável o carregamento, as posições podem ser desmanteladas e o dólar derreter de vez. As quedas diárias vêm sendo tímidas por causa das arbitragens cujo custo é o cupom cambial e o lucro, a Libor. E elas continuam acontecendo apesar de o BC não dar tréguas em seus leilões de compra. Aceitou ontem oito propostas ao preço de R$ 2,1435.

No mercado futuro de juros da BM&F, não houve vacilação no movimento contínuo de pesadas baixas. Atenuadas as tensões externas, o pregão se concentrou na deflação de 0,43% apurada na primeira prévia do IGP-M para reduzir o CDI previsto para a virada do mês de 16,08% para 16,04%. O contrato para a virada do ano recuou de 14,92% para 14,82%. Estudo realizado pela Global Invest Asset mostra que os juros futuros vêm caindo mais depressa do que as expectativas de inflação. Enquanto o CDI previsto para o primeiro trimestre do ano que vem tombou de 18,50%, em outubro, para 14,50% agora, a inflação esperada para 2006 recuou de 4,70% para 4,47% e a estimada para 2007 manteve-se em 4,50%. O que ocorreu foi uma redução na expectativa de juro real induzida pela política monetária do BC. Mas como o juro real projetado já está em 10%, daqui para a frente o potencial de quedas adicionais se reduz. "Ainda que o BC reduza as taxas nominais de juros na velocidade que o mercado tem colocado em seus contratos futuros, as taxas reais permanecerão elevadas ao longo de 2006 e 2007", diz o economista-chefe da gestora, Pedro Paulo B. da Silveira.

Mesmo assim, o atual patamar de juros reais, mais baixo que o que prevaleceu meses atrás, somado à elevação contínua dos gastos governamentais irão produzir uma ação claramente expansionista sobre o nível de atividade ao longo de 2006. E, nesse aspecto, pode estar o fator decisivo para definir qual será o limite de queda dos juros futuros. "Quanto mais o nível de atividade subir, menor será o espaço para a redução dos juros, posto que sempre a economia cresce além do limite considerado seguro pela autoridade monetária", diz Silveira. A Global Invest acredita que os juros podem cair ainda um pouco mais por conta das boas notícias de inflação no curto prazo, mas as taxas praticadas no mercado atualmente podem ser vistas como um piso frente aos riscos de uma futura aceleração da taxa de crescimento econômico.