Título: Expansão do crédito inflou a inadimplência
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Finanças, p. C2

A inadimplência da pessoa física pode recuar nos próximos levantamentos a serem divulgados. Apontado como uma das causas da manutenção das taxas elevadas no crédito, a despeito da queda dos juros básicos, o crescimento da inadimplência teve influência da expansão acelerada do crédito ao longo do ano passado, mostra estudo feito pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, e, mais recentemente, do impacto sazonal dos pesados compromissos de início de ano da pessoa física. A inadimplência, segundo especialistas, é um dos principais componentes do spread bancário ao lado das despesas de captação e estruturais.

A inadimplência da pessoa física atingiu 7,1% da carteira total em fevereiro, segundo cálculos do Banco Central (BC), com base nas operações com atraso acima de 90 dias. O índice é 0,2 ponto acima dos 6,9% de janeiro e 1,2 ponto superior ao piso recente de 5,9%, registrado em junho e julho de 2005.

O relatório do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco afirma, porém, que o rápido crescimento do crédito pode ter afetado os números pelo que chama de "efeito denominador". Ao comparar a evolução das operações em atraso acima de 90 dias com a carteira total do sistema financeiro, o índice cai quando a expansão do crédito se acelera. Por isso mesmo, bancos com carteiras novas de financiamento ao consumo, como o Itaú, não registravam ao longo do segundo semestre a mesma preocupação com a inadimplência que bancos com operações mais antigas, como o Unibanco.

Por causa do "efeito denominador", a inadimplência então teria caído mais significativamente em meados de 2005, quando o crédito estava em franca expansão. O Departamento de Pesquisas do Bradesco expurgou esse impacto e concluiu que a queda da inadimplência até julho de 2005 não foi tão acentuada. De janeiro de 2004 a julho de 2005, o índice de inadimplência calculado pelo BC caiu de 7,4% para 5,9% ou 20,3%. Excluindo o "efeito denominador", porém, a queda da inadimplência foi de 7,8% para 6,75, ou de 14%.

Além disso, de julho de 2005 a fevereiro deste ano, a desaceleração da carteira de crédito contribuiu na direção contrária. Enquanto a inadimplência medida pelo BC crescia 20,3%, de 5,9% para 7,1%, excluindo o "efeito denominador", ela sobe 18% de 6,7% para 7,9%.

Para os economistas do Bradesco outra questão contribuiu para elevar a taxa de inadimplência: fevereiro terminou em pleno feriado de carnaval, atrapalhando a quitação das contas que venciam no período.