Título: Dilma anuncia reunião semanal com partidos
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2012, Política, p. A7

Após demonstrar sua "obsessão" com a melhoria da gestão pública aos líderes e dirigentes dos partidos aliados, a presidente Dilma Rousseff avisou ontem aos integrantes de seu conselho político que não aceitará o uso da máquina do governo federal para beneficiar candidatos nas eleições municipais de outubro.

Num sinal de que pretende estar mais presente nas articulações políticas do governo, Dilma afirmou que deverá se reunir semanalmente com as bancadas das legendas que a apoiam no Congresso. O distanciamento entre a base e a presidente é uma das principais queixas dos parlamentares governistas.

"A presidenta disse que o governo não vai entrar no processo eleitoral, que governo é para executar os projetos de país e ela não vai entrar nem permitir que se entre no debate eleitoral", afirmou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), após o encontro. "Ela vai receber os partidos da base para encontros a partir de março, com o objetivo de estreitar o relacionamento."

Nas palavras de alguns participantes da reunião, Dilma deixou clara a sua "obsessão" pela melhoria da gestão da máquina pública e dos serviços públicos ofertados à população. A presidente reiterou que pretende implementar, até meados do ano, um sistema para monitorar em tempo real a execução dos projetos de todos os ministérios. Para ela, a tendência é a parcela da população que saiu de um situação de extrema pobreza cobrar cada vez mais por serviços públicos de qualidade, sobretudo nas áreas de educação, saúde e segurança pública.

"A presidente deu as linhas e as diretrizes do seu governo: quer melhorar os serviços públicos e usar a tecnologia para que seja dada qualidade aos serviços. Ela usou a seguinte frase: "É com o olho do dono que o boi engorda". Essa frase refere-se tanto à gestão quanto às viagens que ela disse que fará às principais obras do país para avaliar e mostrar que o país cresce com eficiência", comentou o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP).

Na reunião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma apresentação sobre a conjuntura econômica e a situação do Brasil em meio aos desdobramentos da crise financeira internacional. O recado dado é que o Brasil se encontra bem posicionado, apesar de o cenário externo ser preocupante. De acordo com participantes da reunião, Mantega demonstrou otimismo em relação ao fortalecimento do mercado interno e a geração de empregos. O ministro também reiterou que a meta do governo é fazer com que o Produto Interno Bruto (PIB) registre um crescimento de 4,5% em 2012.

"Nós destacamos que o instrumento mais importante para que possamos alcançar um crescimento de 4,5%, que deve ser perseguido pelo governo, é um grande esforço de investimento no país. Então o investimento será o principal instrumento para dinamização do crescimento em 2012", explicou Mantega a jornalistas após a reunião, acrescentando que tal índice é suficiente para gerar todos os empregos necessários. "Temos uma crise internacional, esta crise não está resolvida. Diante disso, eu tinha dito que, se a crise for solucionada, nós poderemos ter um crescimento de 5% em 2012, mas, se a crise persistir, teremos um crescimento de 4%. E decidimos que 4,5% seria uma margem adequada para perseguirmos em 2012."

Dilma também tratou das prioridades do Executivo no Congresso, como o projeto que cria um novo regime de previdência para os servidores públicos, a Lei Geral da Copa e o Código Florestal. A definição do rateio dos royalties do petróleo é outro foco do governo. "A presidenta mais uma vez reafirmou seu compromisso com os contratos em vigor", comentou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, referindo-se à divisão dos royalties.

O conselho político também abordou a tramitação no Senado do projeto que regulamenta a cobrança do ICMS a fim de acabar com a guerra fiscal entre os Estados e com os incentivos às importações. "É uma matéria que temos que agilizar a votação, porque ela vem exatamente na contramão do fortalecimento da indústria nacional, da geração dos empregos no Brasil", destacou Ideli, revelando ainda que também foram debatidas a pressão para que o Congresso aprove uma emenda constitucional criando um piso salarial para os policiais militares, a crise provocada pela greve da categoria em alguns Estados e a possibilidade de o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), tratar do assunto numa reunião com governadores.

Representantes de todos os partidos governistas participaram da reunião, menos do PR, que deixou formalmente a base depois que o senador Alfredo Nascimento (AM) foi exonerado do Ministério dos Transportes em meio a denúncias de irregularidades. Após a reunião, no entanto, líderes do PR estiveram no gabinete de Ideli, ensaiando um retorno à base. O partido pressiona pela substituição do atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.