Título: Governo japonês não garante fábrica de semicondutores no Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Empresas, p. B3

Ministros do Brasil e do Japão podem assinar hoje em Tóquio um memorando de entendimento "sem compromisso de nenhum dos lados" para futura cooperação para o desenvolvimento da industria eletrônica no Brasil, no caso da escolha do sistema de televisão digital japonês.

Durante o dia, em sucessivos encontros, autoridades japonesas colocaram os limites para sua ação. Prometeram aos brasileiros estimular empresas a fazerem investimentos na área de semicondutores no Brasil, mas deixaram claro que a decisão deve vir das próprias empresas e não do governo.

"Eles (autoridades japonesas) foram receptivos à idéia de apoiar (a indústria de semicondutores no Brasil), sempre com a ressalva de que o setor privado é que decide", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por telefone ao Valor.

Amorim coordena a missão que é composta também pelos ministros Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e Hélio Costa, das Comunicações, além de representantes de outros ministérios. Eles foram recebidos em ocasiões diferentes pelo primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi e por três ministros. Estavam previstos também contatos com representantes das indústrias Matsushita Electric Industrial, NEC, Sony e Toshiba.

O ministro da Economia, Indústria e Comércio do Japão, Toshihiro Nikai, pediu explicitamente para o Brasil escolher o padrão japonês, argumentando que é apropriado para o país com alguns ajustamentos. Em outro encontro, o ministro japonês das Relações Exteriores, Taro Aso, disse aos ministros brasileiros que Brasília deve preparar o ambiente para facilitar os investimentos que eles buscam para o setor eletrônico.

Os ministros brasileiros evitaram cuidadosamente esclarecer a decisão final do Brasil sobre o padrão digital e não rejeitaram a possibilidade de adoção de outro padrão, como o europeu. "Há três noivas (Japão, Estados Unidos e União Européia) e queremos ver o dote", disse um negociador.

Foi nesse cenário que ontem à noite diplomatas negociavam os termos de um memorando de entendimento para apoiar o desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil.

Um negociador brasileiro esclareceu que não há compromisso para nenhum dos lados e que o memorando apenas "abre caminho" para Brasília e Tóquio montarem um grupo de trabalho que "contemple" várias contrapartidas por parte do Japão na "eventualidade" de ser escolhido o padrão digital japonês.

Primeiro, é a possibilidade de desenvolvimento conjunto de um sistema japonês-brasileiro que possa atender demandas específicas do mercado brasileiro, o que inclui transferência de tecnologia. Segundo, a gestão conjunta desse sistema. E terceiro, como conseqüência, "vislumbram a perspectiva" de apoiar a instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil. Assim, se for instalada fábrica de semicondutores no Brasil, o governo brasileiro é que dá garantia de aquisição de equipamentos e pagamentos de royalties.

Um negociador fala em compra de material de aproximadamente US$ 10 bilhões se o padrão japonês for o escolhido.

Segundo a agência Kyodo, pelo sistema japonês a transmissão digital terrestre para portáteis, como telefone celular e equipamentos de navegação de carros, é disponível sem adaptadores para TV. O serviço é conhecido como "One Seg" porque os emissores usam um segmento de um canal.

A diretoria da Panasonic/Matsushita disse ao ministro Luiz Fernando Furlan que está ampliando a linha de montagem em Manaus, preparando-se para produzir parte de componentes para a TV digital. Acham que isso ajudará no avanço das negociações para ampliar a cadeia produtiva eletroeletrônica no país.

A expectativa é de que o memorando seja assinado hoje, antes do retorno da delegação brasileira.