Título: Greve da Anvisa aprofunda crise em Santos
Autor: Rodrigues, José
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Empresas, p. B8

A greve dos fiscais da vigilância sanitária está servindo como espécie de tiro de misericórdia para agências de navegação que atuam em Santos, o porto mais visado pelo movimento. Com prejuízos estimados em mais de US$ 80 milhões para o setor de navegação, pelos quase dois meses de redução do trabalho de fiscalização, os efeitos negativos agora atingem também as agências, que são os representantes dos armadores nos portos.

O lado mais visível da crise são as demissões do setor, que já foram iniciadas. "As agências têm sua receita baseada em percentual sobre os fretes marítimos, que declinaram nos últimos meses; na sequência, o valor do dólar também tem caído; e por último, a falta de trabalho, com a greve do pessoal da saúde", afirma José Eduardo Lopes, presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar). As demissões, que podem ultrapassar mais de 100 pessoas, ocorrem no universo de 60 agências que operam em Santos, algumas também em outros portos nacionais.

Com o movimento grevista, a navegação está evitando Santos como primeiro porto para acostagem, preferindo outros, nos quais a liberação sanitária é mais ágil. Nesses casos tem sido descarregada parte da carga, que depois é transferida para Santos, ocasionando novos custos, que recaem sobre os importadores.

Segundo Lopes, um grande armador trocou o porto de Santos pelo de Buenos Aires, como "porto concentrador" de cargas, um filão disputado pela maioria dos terminais do mundo, que recebem produtos numa primeira operação, para em seguida serem reembarcados para portos vizinhos. "A credibilidade de Santos está em queda", diz o executivo. Ele acrescenta que da média de mil despachos liberados por dia, atualmente esse valor caiu para cerca de 300, a maior parte à custa de medidas judiciais.

Entre os segmentos mais atingidos pela greve está o de matérias-primas para a fabricação de medicamentos, cuja inspeção prévia é obrigatória na totalidade das importações. Outro segmento é dos produtos alimentícios. Segundo Paulo Henrique Fraccaro, presidente da Asem, do grupo alemão Fresenius, com unidade de produção em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, os prejuízos da empresa já somam US$ 3 milhões.

A Asem importa componentes plásticos e agulhas metálicas para confecção de bolsas de sangue. "Temos 400 funcionários e deixamos de produzir bolsas no valor total de US$ 2 milhões e não pudemos exportar o equivalente a US$ 1 milhão. Demos férias coletivas de 20 dias", queixa-se Fraccaro. O diretor afirma que enquanto não surgem medidas eficazes para solucionar a greve, "o ônus recai sobre as empresas".

Segundo o presidente do Sindamar, o setor que representa tem informações de que o pessoal da Anvisa pretende estender a greve até o início de maio, quando está previsto movimento semelhante dos agentes da Receita Federal e da Alfândega. "Aí será o caos", prevê Lopes.

Na barra de Santos, ontem, estavam ancoradas 12 embarcações, 10 sem autorização de "livre prática", o procedimento dado pela representação local da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a operação de descarga ou embarque de carga.