Título: Indústria prevê aumento de produção
Autor: Lamucci, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Brasil, p. A9

Os empresários estão mais otimistas quanto às perspectivas para a demanda e produção no segundo trimestre, e há um número maior de industriais dispostos a reduzir os preços no período. Esse é o retrato que sai da prévia da 159ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), confirmando a avaliação de que a economia continuará a crescer a um ritmo razoável, sem provocar pressões inflacionárias. A redução dos juros, o aumento dos gastos públicos e a recuperação da massa de salários sustentam esse maior otimismo, segundo analistas.

Os números da sondagem mostram que 56% dos 491 entrevistados acreditam num aumento da produção nos próximos três meses, enquanto 13% prevêem diminuição. O saldo ficou positivo em 43 pontos percentuais, mais do que os 41 pontos observados em abril do ano passado, quando 52% dos empresários apostavam em crescimento e 11% em queda.

Para o economista Aloísio Campelo, da FGV, "não há uma explosão do ritmo de atividade, mas a situação está melhorando". A sondagem indica que 46% dos industriais esperam expansão da demanda nos próximos três meses, semelhante aos 45% de abril de 2005. Os pessimistas são 12%, número idêntico ao do mesmo período do ano passado. Para Giovanna Rocca, do Unibanco, os números indicam que os empresários não estão mais relutantes em aumentar a produção. "Há mais confiança de que a demanda vai continuar a crescer."

O resultado também traça um panorama favorável para os preços. De janeiro para abril, ficou praticamente estável o número de empresas que pretendem reajustar as cotações no segundo trimestre (alta de 25% para 26%), mas aumentou significativamente o de companhias que querem reduzir preços (de 10% para 20%). Segundo Campelo, isso indica que não há sinais de pressão no atacado. Com o câmbio valorizado e a perspectiva de aumentos modestos das tarifas públicas, há um alívio de custos para muitas empresas.

A prévia da FGV também indicou uma melhora na avaliação do nível de demanda atual: em janeiro, apenas 9% dos entrevistados considerava que ela estava forte; em abril, esse número aumentou para 16%. Os mesmos 19% classificam a demanda como fraca. Também houve avanço no diagnóstico da situação atual dos negócios: 25% das indústrias acham que ela está boa e 22% que está fraca. Em janeiro, 20% tinham uma visão positiva dos negócios e 19%, negativa.

Outro ponto positivo da sondagem se refere ao nível de estoques: 5% das empresas o avaliam como insuficiente, mais que os 3% registrados em janeiro. O percentual das que o consideram excessivo continua em 11%. Segundo a FGV, o saldo negativo de 6 pontos percentuais é comparável à media histórica de 7 pontos para a época do ano.

Para a economista Zeina Latif, do ABN Amro, o resultado da sondagem confirma que a atividade econômica se recupera numa tendência suave, refletindo em grande parte o afrouxamento da política monetária. Desde setembro, a Selic caiu de 19,75% para 16,5% ao ano, devendo cair ainda mais nos próximos meses.

Para o economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, Eduardo Velho, os "efeitos defasados da queda dos juros ficarão mais evidenciados no crescimento a partir do segundo trimestre". Num estudo, ele nota que nos dois ciclos anteriores de afrouxamento monetário (fevereiro a julho de 2002) e junho de 2003 a maio de 2004), a recuperação da atividade econômica foi rápida e se prolongou após o fim do processo.

Velho estima que, com a Selic em 14% no fim do ano, a produção industrial pode crescer 4,7% neste ano. Se os juros caírem um pouco mais e caírem para 13,5% em dezembro, a expansão da indústria pode atingir 5,2%. Em resumo, haveria motivos para o maior otimismo dos empresários apontado pela FGV. (Com Agência O Globo)