Título: Anvisa proíbe remédio
Autor: Khodr, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 30/09/2010, Brasil, p. 17

Princípio ativo do medicamento Avandia pode aumentar em até 30% o risco de problemas cardíacos. Desde ontem, fabricação e venda estão vetadas em todo o país

Anvisa determinou ontem o cancelamento de registro do medicamento Avandia, usado no tratamento de diabetes tipo 2. Pesquisas indicaram que a rosiglitazona, princípio ativo da droga, pode aumentar em 30% os riscos de problemas cardiovasculares nos pacientes. Com a decisão, desde ontem, a fabricação e a comercialização do produto estão proibidas. De acordo com o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, os pacientes que fazem uso do remédio não precisam interromper o tratamento imediatamente. Não há motivo para alarde. Aqueles que tomam o medicamento não devem suspender o uso, mas procurar o médico para providenciar a substituição, explica.

Baseadas em notificações de usuários que apresentaram problemas cardíacos após o uso contínuo da droga, desde 2007 diversas pesquisas foram realizadas para analisar os efeitos do uso do medicamento. Em junho deste ano uma comissão internacional reuniu 56 desses estudos em uma revisão sistemática totalizando 35 mil pacientes e constatou a relação entre o princípio ativo com a ocorrência de problemas como infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, parada cardíaca e derrame em 28% deles. A área de farmacovigilância da Anvisa estimou que cerca de 40% dos óbitos notificados estavam relacionados a problemas no miocárdio, e que a rosiglitazona aumenta em cinco vezes as chances de desenvolver insuficiência cardíaca, quando comparada ao uso de pioglitazona um dos princípios ativos que podem ser utilizados como alternativa no tratamento de diabetes tipo 2.

Com os resultados da revisão dos estudos, a Agência Europeia de Medicamentos (Emea) proibiu, na semana passada, a circulação do medicamento, que é utilizado por cerca de 15 milhões de diabéticos em mais de 100 países. Já a agência de controle de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA), com quem esta segunda-feira a Anvisa firmou acordo de confidencialidade para a troca de informações, optou pela restrição severa ao produto. Nos Estados Unidos, o Avandia é autorizado apenas no caso de não ser possível a substituição por droga alternativa.

Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Saulo Cavalcanti acredita que a Anvisa optou pela proibição para proteger os pacientes. O posicionamento da Anvisa foi cauteloso, e a população não será prejudicada, disse. Segundo Barbano, a agência optou pela proibição porque há no mercado outras opções efetivas para o controle da doença. Temos pelo menos nove classes terapêuticas alternativas para o tratamento de diabetes tipo 2, conta. A GlaxoSmithKlime, fabricante do remédio, foi procurada pela reportagem, mas não quis se pronunciar. O laboratório tem 60 dias para recolher os medicamentos que ainda estão em circulação.