Título: Denúncia eleva o tom da oposição
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Política, p. A15

A denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, acusando 40 pessoas de integrarem "organização criminosa" comandada pelo ex-ministro José Dirceu elevou o tom dos ataques da oposição contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. PFL e PSDB apontaram a responsabilidade de Lula no caso e avaliaram que a denúncia do procurador daria respaldo jurídico a um eventual pedido de impeachment contra o presidente por crime de responsabilidade.

Apesar disso, a oposição não vê condições políticas para a abertura de um processo como esse contra Lula - possibilidade que está sendo examinada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "O procurador-geral demonstrou que há motivos para o impeachment. Mas nós não queremos isso. Queremos o impeachment nas urnas", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), resumindo a opinião corrente entre os oposicionistas.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), considerou a peça enviada pelo procurador ao STF "a denúncia mais grave já feita na história do Brasil em relação ao governo federal". Ele afirmou que, se uma organização criminosa foi montada pelo núcleo do Partido dos Trabalhadores no governo federal, Lula é responsável.

"Uma denúncia como essa não pode deixar de envolver diretamente o presidente da República. Quem é o responsável pelo governo federal é o presidente da República. (...) Não é isso que eu possa estar dizendo, mas o grande responsável pela formação da quadrilha é o presidente da República no regime presidencialista. É isso que está dito de uma maneira explícita politicamente", afirmou Tasso.

O aprofundamento das investigações poderá comprovar o envolvimento de Lula, na opinião do líder do PFL, José Agripino (RN). Segundo ele, os procuradores subordinados a Antonio Fernando de Souza disseram ter encontrado "lacunas" nas apurações. "Eles estão dizendo que não asseveram que o presidente Lula não venha a ser apontado como partícipe do esquema, que não seja o 41º ", disse o pefelista.

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), vê a crise chegando perigosamente mais perto do Palácio do Planalto: "O documento mostra que se complica cada vez mais a situação do presidente Lula. Talvez esse seja o governo mais corrupto da história do país". Com relação aos deputados envolvidos com o mensalão, o líder espera mais rigor dos magistrados. "O julgamento político foi aquém. Mas o julgamento jurídico vai aprofundar ainda mais as investigações e terá outros resultados", afirmou.

A oposição também não abrirá mão de seus próprios instrumentos de apuração, principalmente por meio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, que na terça-feira deve votar requerimento convocando o ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Mattoso, para depor.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), Virgílio usou a sutileza para incluir Lula na "quadrilha" denunciada pelo procurador. Disse que 40 é um número simbólico, porque "remete àquela lenda do Ali Babá". Da tribuna, o líder tucano afirmou ser "impossível" que Lula não soubesse do envolvimento de 40 em irregularidades envolvendo o governo. Para ele, o procurador-geral não citou Lula "porque não quis".

Em aparte, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu que o Congresso acompanhe as providências que STF dará à denúncia. Em tom irônico, afirmou que o presidente precisa ser submetido a um exame psiquiátrico, se não sabe de nada que acontece à sua volta. "Se não fosse o grande responsável por ação, alguém tinha que ser internado, porque a omissão é doentia", disse.

Poucos governistas se manifestaram, enquanto a oposição reforçava os ataques ao governo. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), disse que, no atual contexto eleitoral, a denúncia é "dura e de peso significativo". Segundo ela, as pessoas citadas terão direito à ampla defesa e terão de ser julgados, antes que recebam a pecha de culpados. Segundo ela, o PT vai encaminhar ao Ministério Público informações contestando dados do relatório da CPI dos Correios.

Na Câmara, a posição governista foi manifestada pelo líder do PT, deputado Henrique Fontana. "Ao contrário do que dizem, o país vive um ambiente de tranqüilidade e trabalho de investigações. Esperamos, agora, que os acusados apresentem suas defesas. A denúncia do procurador-geral descreve o que nós queríamos desde o início, que era mostrar que as investigações apontam para o início do esquema do mensalão antes do governo Lula, em Minas Gerais, no governo do PSDB."

O plenário da OAB deve examinar no dia 8 de maio relatório do conselheiro Sérgio Ferraz sobre a possibilidade de uma ação de impeachment contra Lula. (Colaborou Thiago Vitale Jayme)