Título: Bird pede estudo ambiental a papeleiras no Uruguai
Autor: Braga, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Internacional, p. A17

Em meio ao agravamento do conflito entre Uruguai e Argentina sobre a instalação de duas fábricas de polpa de celulose no lado uruguaio da fronteira, o Banco Mundial condicionou a liberação de US$ 400 milhões para os projetos à conclusão de um estudo detalhado sobre o impacto ambiental das unidades industriais.

A decisão foi tomada no momento em que os manifestantes argentinos contrários à instalação das fábricas, da finlandesa Botnia e da espanhola Ence, resolveram retomar bloqueios em duas das três pontes que ligam os dois países. A volta desse tipo de ação ocorre às vésperas do feriado da Semana Santa, quando aumenta o fluxo turístico. Ao mesmo tempo, o Uruguai apresentou nesta semana queixas à Corte Internacional de Haia e ao Mercosul contra a violação da livre circulação de pessoas e mercadorias em suas fronteiras.

A Corporação Financeira Internacional, braço financeiro do Bird, divulgou anteontem um trabalho feito por dois especialistas independentes, que analisaram um estudo encomendado pela própria CFI. O primeiro documento, divulgado em meados de dezembro, havia concluído que o dano potencial que pode ser causado pelas fábricas é pequeno, abrindo caminho para a liberação do crédito.

O novo trabalho, entretanto, "identificou a necessidade de análise e informação adicionais para determinar com precisão o impacto ambiental" dos projetos, segundo comunicado distribuído pelo Bird. Também foram recomendadas "melhorias técnicas que poderiam incrementar a performance ambiental das duas fábricas". Uma porta-voz do Bird disse que nos próximos dias a instituição definirá um plano para a conclusão do estudo de impacto ambiental e não quis estipular prazo para a definição sobre a liberação do crédito. O investimento total nas fábricas é de US$ 1,8 bilhão.

Após a divulgação da análise do Bird, os dois países disseram se sentir favorecidos pelas conclusões. Os argentinos dizem que os especialistas endossaram a posição do país, de que a informação dada pelas empresas e pelo governo uruguaio é insuficiente. Os uruguaios dizem que o trabalho não se opõe nem à localização nem à tecnologia que será usada nas fábricas em construção, interpretando-o como um aval aos projetos.

O governo uruguaio protestou ontem contra a retomada dos bloqueios na fronteira e quer que o assunto seja analisado o mais rápido possível pelo Mercosul. Os bloqueios haviam sido interrompidos no início deste mês, mas os moradores das cidades de Colón e Gualeguaychu, do lado argentino, resolveram retomá-los depois do fracasso de uma tentativa de acordo entre os governos.

Uruguai e Argentina haviam se comprometido a realizar um novo estudo de impacto ambiental para tentar resolver o conflito, e o acordo incluía o fim dos bloqueios e a paralisação das obras por até 90 dias. Semana passada, a empresa Botnia, anunciou que pararia seus trabalhos por apenas 10 dias, o que foi considerado insuficiente pelos manifestantes.

O chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, disse que o Mercosul deve tratar rapidamente do assunto, em uma clara mensagem ao Brasil, que por enquanto se mantém à margem do conflito. A Argentina exerce a presidência pró-tempore do bloco e portanto controla sua pauta, o que faz com que a chance de que o tema seja analisado antes de o país passar o cargo ao Brasil, em 21 de julho, sejam remotas.