Título: IDE fica estável na AL e Cepal pede esforço maior de captação
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Internacional, p. A17

Os investimentos diretos estrangeiros cresceram cerca de 29% no mundo em 2005, mas praticamente nada na América Latina e Caribe, onde o valor ficou inalterado em US$ 61,6 bilhões. Apesar disso, o fato de manter investimentos nesse nível é "impressionante", sobretudo por serem países que "fizeram pouco" para atrair capital.

Essa é uma das conclusões do relatório anual sobre Investimento Estrangeiro Direto (IDE) na região da Cepal (Comissão para a América Latina e Caribe, da ONU), divulgado ontem. A outra é a necessidade de um papel ativo dos latino-americanos para a atração de investimentos externos. A Cepal prevê para este ano um IDE similar ao de 2005. "Se forem mantidas as condições atuais, sem turbulências, repetiremos o resultado".

"Os investimentos estrangeiros se mantiveram na casa dos US$ 60 bilhões sem que os governos fizessem muito esforço, o que é um bom sinal", disse ao Valor Michel Mortimore, economista co-autor do estudo. "Isso quer dizer que os fluxos de investimento ocorreram graças a vantagens como uma situação macroeconômica favorável e estabilidade das regras dos jogos. Mas a América Latina deve adotar uma tendência que já se vê no mundo inteiro, a política ativa".

Para a Cepal, política ativa significa aumentar qualidade e quantidade dos investimentos estrangeiros e seu impacto no desenvolvimento. "A América Latina precisa focar nas empresas que mais interessam à região e dar incentivos a elas, fiscais, financeiros, de infra-estrutura e em recursos humanos". Os mais avançados nessa política hoje são Costa Rica e Chile.

Mortimore explica que embora alguns países da região, como o Brasil, tenham boas políticas, falta implementá-las de forma eficiente. Diz, por exemplo, que 12 das 15 entidades de promoção de investimentos na região fecharam ou sofreram cortes drásticos desde 2000. "Precisamos de instituições consolidadas, orçamento adequado e profissionais capacitados."

Os EUA continuam sendo os principais investidores na região, respondendo por quase 40% do fluxo total do ano passado. A Holanda ficou em segundo, com 12%, o que se explica por que muitas empresas em paraísos fiscais investem no exterior pelo país. A Espanha ficou em terceiro, com 6%.

O México foi a primeira escolha dos estrangeiros no ano passado, captando US$ 17,8 bilhões, ou 6,4% menos que em 2004. O Brasil ficou em segunda posição, com US$ 15 bilhões, e o Chile em terceira, com US$ 7,2 bilhões. México e Brasil desde 2000 se alternam nas duas primeiras posições.

No caso mexicano, a Cepal destaca a importância das "maquilladoras", que concentram 58% dos investimentos externos. O setor automobilístico recebeu importantes aportes de Ford, GM, Nissan , Volkswagen e DaimlerChrysler para empresas instaladas no país. A compra de 42,5% da siderúrgica Hylsamex pelo conglomerado argentino Techint também impulsionou o IDE mexicano em 2005.

A Argentina mostrou sólida recuperação, atraindo US$ 4,6 bilhões, ou 33% a mais que em 2004 . Para a Cepal, esse incremento se deveu ao crescimento econômico e das exportações nesse período.

"Algumas companhias também encontraram na Argentina uma oportunidade para ampliar sua presença internacional", diz o relatório. Ele cita a brasileira Camargo Corrêa, que adquiriu a Loma Negra e passou a controlar 48% do mercado argentino de cimento.

O relatório faz uma ressalva, porém, para a relação conflituosa entre governo e empresas transnacionais de serviços públicos no país, lembrando as recentes disputas com as francesa Suez e a EDF.

A América do Sul recebeu cerca de US$ 39 bilhões em investimentos estrangeiros em 2005, resultado 2,2% superior ao de 2004. Embora o Brasil tenha captado menos (o IDE caiu de US$ 18 bilhões para US$ 15 bilhões), isso foi compensado pela a alta na Argentina.

"A redução dos investimentos no Brasil não representa uma mudança drástica", diz a Cepal. "Em 2004 ocorreu uma situação atípica com ingressos altos vinculados à aquisição da Ambev." Em 2005 não houve aquisições desse porte".

Já a instabilidade política e social na Bolívia afetou substancialmente a entrada de investimentos. O país foi o único da região a ter saída de IDE , com US$ 280 milhões negativos em 2005. "A nacionalização de empresas assustou os estrangeiros", disse Mortimore.