Título: Vale tem 80% de clientes no mercado spot
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2012, Empresas, p. A8

A Vale prevê que poderá haver uma convergência entre os preços do mercado à vista de minério de ferro e o seu modelo de precificação trimestral com base na média do trimestre anterior para contratos de longo prazo, caso os preços da matéria-prima do aço se mantenham estáveis.

A avaliação é de José Carlos Martins, diretor executivo de ferrosos e estratégia da mineradora. Para Martins, isso poderá ter um impacto favorável sobre os resultados futuros da companhia, que sofreu com a diferença no último trimestre do ano. O fato não impediu a empresa de fechar o ano passado com um lucro de R$ 37,8 bilhões, o maior de sua história.

Durante entrevista sobre o balanço de 2011, Martins informou que, hoje, 80% da carteira da Vale é formada por clientes que optaram por contratos baseados no preço do mercado "spot" corrente e apenas 20% mantiveram a fórmula antiga. "Se o valor do minério voltar a subir, os que preferiram o preço à vista vão pagar mais caro pela commodity, enquanto os que mantiveram o sistema tradicional da companhia serão beneficiados com um minério mais barato, já que o sistema da Vale se baseia na média do "spot" do trimestre anterior", disse ele.

Isso ocorre porque a escolha do tipo de precificação feita pelos clientes feita no ano passado não permite retorno. Ou seja, quem está no spot fica no spot, independente da variação de preço para cima ou para baixo - o mesmo vale para o sistema antigo. "O período de escolha já se encerrou", informou Martins.

A possibilidade de alta dos preços do minério em 2012 não é descartada pelo cenário desenhado pelo presidente da Vale, Murilo Ferreira. Ele prevê um primeiro trimestre "não exuberante" como os três últimos meses do ano, quando a empresa lucrou R$ 8,3 bilhões.

Sem falar em números, Ferreira avalia que a demanda pode esquentar a partir do segundo trimestre. "Estou otimista porque acredito que a partir do segundo trimestre haverá um afrouxamento na política monetária da China e decisões importantes serão tomadas pelo governo chinês, como a priorização da construção de 10 milhões de casas por ano nos próximos 15 anos. Como o país sofre eventos sísmicos, a demanda por mais aço nas residências é comum e isto pode levar a uma recuperação do mercado entre abril e setembro". Segundo ele, o preço atual de US$ 140 a tonelada do minério não é ruim, mas pode melhorar.

O presidente da Vale destacou ainda que a empresa vai priorizar os investimentos em minério de ferro, níquel, cobre, carvão e fertilizantes. Para tocar projetos nessas áreas, ele admite até vender ativos, como os navios Valemax, de 400 mil toneladas, encomendados da China e da Coreia na gestão de Roger Agnelli e atualmente impedidos de aportar nos portos chineses. "Vamos vender desde que atrelados a contratos de longo prazo para a Vale manter sua estratégia de frete de longo prazo", disse..

Ele também admitiu que a companhia está avaliando os ativos de óleo e gás comprados também na gestão de Agnelli para levar o assunto ao conselho, que irá decidir sobre o destino desses ativos. "Pode ser de alguma associação ou mesmo venda, mas ainda não há decisão nenhuma sobre eles", afirmou.

Sobre a taxação do minério de ferro pelos estados do Pará e Minas Gerais, Ferreira adiantou que o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) está avaliando a questão e poderá entrar com uma ação contra esses estados em nome das mineradoras em geral. "O assunto afeta a todas as mineradoras, não apenas a Vale, sejam elas grandes ou pequenas. O estudo do Ibram está evoluindo e quase concluído, bem como pareceres de personalidades do campo jurídico sobre o assunto. E diante disso será tomada uma decisão potencial de ingresso com ação. Mas esta ação não é uma ação da Vale, mas das empresas de mineração".