Título: Mulheres ocupam 3,9% dos cargos de chefia, revela IBGE
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2006, Especial, p. A20

Nelson Perez/Valor Eduardo Nunes, presidente do IBGE: inserção da mulher no mercado de trabalho vive momento de transição Pela primeira vez na história das suas pesquisas estruturais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mediu a presença da mulher em postos de comando do mercado de trabalho brasileiro. E o resultado não desagradou a antropóloga Moema Teixeira, pesquisadora do instituto, encarregada de divulgar o capítulo sobre a mulher da Síntese dos Indicadores Sociais referente a 2004.

A pesquisa constatou que 3,9% das 35,35 milhões de mulheres ocupadas no país na época da pesquisa ocupavam uma posição de "dirigente" nos locais de trabalho. Entre os homens, a proporção era de 5,5% dos 49,24 milhões de ocupados.

Para Moema, a diferença em termos relativos já não é tão grande, considerando que a presença da mulher em posições mais elevadas da hierarquia profissional é um fenômeno relativamente novo. Em termos absolutos, a diferença é maior -1,38 milhão de mulheres e 2,71 milhões de homens-, dada a maior quantidade de homens no mercado de trabalho.

Mas ainda que a antropóloga admita o avanço, a análise mais geral feita no documento divulgado pelo IBGE considera os dados referentes a cargos de comando entre os indicadores da posição ainda desfavorável da mulher, no mercado de trabalho e no cotidiano domiciliar.

Para o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, a inserção da mulher no mercado de trabalho vive momento de transição, caracterizado por um esforço feito por ela para galgar os melhores postos "Quando a mulher ocupa um cargo, ela ocupa bem. A dificuldade é que os postos que se abrem ainda são poucos."

A Síntese dos Indicadores Sociais, espécie de sintonia fina dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada no segundo semestre do ano passado, efetivamente confirma essa desvantagem feminina. A mulher tem mais tempo de estudo (8,6 anos contra 7,6 anos entre a população ocupada), mas esse esforço ainda não se traduz em recompensa no mercado. Entre as pessoas com 12 ou mais anos de escola, o rendimento médio auferido pela mulher representa apenas 61,6% do salário médio masculino.

Na região Nordeste, o número cai para 57,7%, subindo para um pico de 62,9% do salário masculino na região Sul. Nas faixas de escolaridade menor, a diferença tende a cair, chegando a 80,8% entre pessoas com até quatro anos de estudo. A menor desigualdade de rendimento por sexo entre as pessoas com menor escolaridade se confirma na observação dos números entre 40% mais pobres e os 10% mais ricos da população brasileira. Entre os mais pobres, a renda média da mulher representa 76% da do homem. Entre os 10% mais ricos, a relação cai para 66,1%, sendo que na região Sul a mulher do grupo dos mais ricos recebe apenas 59,4% do que ganha o homem.

Mas essa defasagem não é generalizada. "Na nossa área específica isso não ocorre. Eu só tenho analistas homens, mas se tivesse mulheres elas ganhariam a mesma coisa", disse a matemática Catarina Pedrosa, pós-graduada em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que comanda a área de análise de investimento para a América Latina do Banif Investment Bank.

Para ela, o avanço da mulher em postos de chefia é " normal", decorrente do progressivo ganho feminino no campo do conhecimento. "Até há pouco a mulher só chegava a secretária. Hoje ela estuda e galga posições", analisou. Catarina disse que não tem problemas para chefiar uma equipe só de homens, e afirmou que eles são até mais fáceis de comandar do que as mulheres. Segundo ela, no mercado bancário a idade acaba sendo um obstáculo maior do que o sexo. "Há uma preferência por pessoas mais jovens", disse.

As estatísticas sociais do IBGE revelam que, no geral, a mulher ainda está longe de conquistar a igualdade alcançada no nicho de mercado de Catarina. A começar pelo tipo de ocupação. Enquanto entre os homens com nível de educação superior foi observada tendência à distribuição diversificada no mercado de trabalho, com 17,1% empregados nas áreas de educação, saúde e serviços sociais, 16,3% na indústria, 15% no comércio e reparação, e 13,1% na administração pública, entre as mulheres havia concentração de 46,1% dos empregos em educação, saúde e serviços sociais.

"Esses dados revelam que, assim como ocorre no âmbito da família, na escola e no mercado de trabalho se reproduz uma divisão de papéis socialmente constituídos, onde cabe à mulher as atividades de cuidado da família, idosos, doentes, crianças etc. Com efeito, uma das principais razões para as disparidades de rendimento entre homens e mulheres é o tipo de inserção no mercado de trabalho", diz a análise dos dados feita pela equipe técnica do IBGE.

A distribuição entre as unidades da federação dos cargos de comando exercidos pela mulher reforça essa análise. No Distrito Federal, 8% das mulheres ocupadas estão em cargos de comando, contra 9,8% dos homens. Em São Paulo, a relação é de 4,6% de chefes entre as mulheres e 7,3% entre os homens. Para o IBGE, os números de Brasília devem-se ao fato de que o acesso a postos de comando no setor público dá-se de forma mais igualitária do que no privado.

Além de ganhar menos pelo mesmo trabalho, a mulher continua trabalhando mais quando volta para casa. A mulher que trabalha fora dedica 22,1 horas semanais aos afazeres domésticos, caracterizando a clássica dupla jornada, enquanto entre os homens esse tempo é menos da metade, 9,9 horas. No Piauí e no Maranhão, as mulheres chegam a dedicar em média 27,8 horas extras ao trabalho dentro de casa. No Distrito Federal, o extremo oposto, mulher faz 17,3 horas extras semanais trabalhando em casa, contra 8,7 horas do homem.