Título: Economia aquecida e câmbio fazem importações crescerem 40% em abril
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2006, Brasil, p. A2

Impulsionadas por um nível de atividade doméstico mais forte e pela continuidade da valorização do câmbio, as importações brasileiras cresceram 40% em abril na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados da média diária. Ao mesmo tempo, as vendas externas aumentaram em ritmo menor: 18,4%. E contaram com uma forte contribuição das exportações de derivados de petróleo.

Pela primeira vez desde julho de 2001, de acordo com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), o superávit de um mês foi inferior ao de igual mês do ano anterior. Em abril, o saldo da balança caiu 20% em relação a março. Esse foi o resultado de um aumento de 6,5% nas exportações totais e de 25,8% nas importações.

O crescimento das importações é considerado "explosivo" pelo diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Só as compras de bens de capital, que são máquinas e equipamentos utilizados pelas indústrias, avançaram 39,3% em abril na comparação com o mesmo mês de 2005, pela média diária. Segundo Gomes de Almeida, um bom crescimento para esses itens seria na casa de 16%, considerando uma alta de 4% no Produto Interno Bruto (PIB). Ele calcula que para cada 1% de alta no PIB, as importações de bens de capital deveriam crescer em torno de 4%. "Tem ocorrido uma substituição do produto brasileiro pelo estrangeiro", diz.

Para o economista da MB Associados, Sergio Vale, esse movimento reflete não só a valorização do real em relação ao dólar, que faz com que os produtos importados fiquem mais baratos, mas também um maior nível de atividade da economia brasileira. Prova disso, segundo ele, é que não só os bens de capital estão sendo mais importados, como também os bens de consumo. Pela média diária, a importação desses produtos cresceram 52,4% no mês passado.

A elevação de 25,1% na importação de matérias-primas e bens intermediários não preocupa Gomes de Almeida, pois ainda crescem dentro da média, sem sinal de uma explosão, como no caso dos bens de consumo.

Ao mesmo tempo, o aumento das exportações tem perdido ritmo. No caso dos produtos manufaturados, a média diária das vendas para o exterior mostrou alta de 21,7%, o que representou um aumento total de US$ 475 milhões. No entanto, somente as exportações dos derivados de petróleo, como gasolina e óleos combustíveis responderam por 53,3% desse crescimento. "Além de perderam fôlego, as exportações estão muito concentradas em poucos setores", afirma o diretor do Iedi.

As exportações dos produtos básicos ainda se mantêm em alta e ajudam no crescimento das exportações. Em abril, a média diária das vendas externas desses produtos subiu 10,9%. "Esses produtos têm conseguido se sustentar porque a demanda mundial está aquecida, mas vão começar a sofrer com o real valorizado", comenta Vale. Ele espera que ao longo dos próximos meses a participação dos básicos seja reduzida. "Agora os efeitos da valorização do câmbio estão ficando bem claros. Demorou um pouco para a balança sentir", diz.