Título: Greve de Garotinho enfraquece tese da candidatura própria do PMDB
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2006, Política, p. A6

A greve de fome iniciada no domingo pelo ex-governador Anthony Garotinho, reprovada pela cúpula do PMDB, praticamente sepultou a tese da candidatura própria à Presidência da República. Ele se isolou, irritou o partido, e reduziu ainda mais suas próprias chances de disputar. E o ex-presidente Itamar Franco - o outro pré-candidato pemedebista - não dispõe de estrutura partidária e apoio suficiente para, sozinho, dar prosseguimento ao projeto.

O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), defendeu que Garotinho dê explicações sobre as denúncias contra ele, e negou qualquer envolvimento do partido com a atitude do ex-governador. "O partido não foi consultado e não tem nada a ver com esse gesto. É um gesto pessoal, unilateral", disse. Também negou ato para suspender a pré-candidatura. Isso seria avaliado apenas em caso de uma representação.

Uma das reações mais duras contra a greve de fome partiu do ex-governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. Ele disse que Garotinho está levando o partido ao ridículo e pediu punição.

O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, disse que em vez de fazer greve de fome, o ex-governador do Rio deveria explicar as denúncias contra ele.

Segundo Rigotto, que perdeu para Garotinho a disputa interna pela vaga do PMDB na eleição presidencial, as denúncias são sérias e merecem respostas objetivas. "Acho que mais importante do que qualquer manifestação (como a greve de fome), é dar uma resposta clara, correta, em relação a tudo o que foi denunciado", afirmou Rigotto.

A constatação dos prejuízos do gesto de Garotinho também à pré-candidatura de Itamar era feita ontem até por aliados do ex-presidente. Num primeiro momento, alguns viram crescer as chances de Itamar, diante das denúncias de supostas irregularidades no financiamento da pré-candidatura de Garotinho.

Mas aliados de Itamar constataram a fragilidade da base de sustentação de sua pré-candidatura, ao contrário de Garotinho, que tem estrutura de apoio suprapartidário nos Estados, fortemente amparado em grupos evangélicos, e um estoque de votos que independem do PMDB. Essa avaliação estimulou aliados de Itamar a dar início, há alguns dias, a conversas com o ex-governador do Rio sobre a possibilidade de os dois se unirem e submeterem uma chapa pura à aprovação da convenção nacional de junho: com Itamar para presidente e Garotinho, vice. Essas conversas foram interrompidas ainda embrionárias.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que considerou a greve "falta de maturidade", afirmou que hoje será formalizado pedido à Executiva Nacional do PMDB de realização de convenção nacional em 13 de maio, para antecipar a decisão sobre lançar ou não candidato próprio.

Aliados de Garotinho e de Itamar ameaçam boicotar a pré-convenção de maio, não enviando representantes dos Estados. Ao todo, 726 convencionais têm direito a voto. Os diretórios têm de pagar transporte e hospedagem - e repetir os gastos em junho, na convenção oficial.

Pela legislação eleitoral, as convenções partidárias para homologar as candidaturas têm que ser realizadas de 10 a 30 de junho. Os pemedebistas contrários à candidatura própria dizem que o partido precisa de uma definição antes - ainda que extra-oficialmente -, para que possa deslanchar as alianças eleitorais nos Estados.

É que, pela legislação eleitoral (regra da verticalização), se disputar a Presidência com candidato próprio, o PMDB ficará impedido de se coligar com partidos que tenham candidato ao Planalto, como PT e PSDB - e o PFL, se for confirmada a aliança com o PSDB.

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliado de Garotinho, avisou ontem Temer que, se for realizada em maio, a pré-convenção será contestada na Justiça. "Entraremos com queixa-crime. É estelionato", disse. Na avaliação de pemedebistas, a reação é reação de quem sabe que vai perder. Cunha e outros aliados de Garotinho foram à representação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) relatando as "perseguições" das quais o pré-candidato tem sido vítima e pedindo que enviassem representantes para ouvi-lo.

Garotinho disse ontem que está abatido, depois de 42 horas de greve de fome, mas garantiu que pode levar seu "protesto" contra a cobertura da imprensa até as últimas conseqüências. Ele conversou com jornalistas da imprensa estrangeira.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) decidiu realizar uma inspeção extraordinária na Fundação Escola de Serviço Público (Fesp) a fim de apurar a razão de ter havido dispensa de licitação na contratação do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania, que só no ano passado recebeu R$ 105.665.276,33 do governo Rosinha Matheus.

Os contratos sob investigação do TCE somam R$ 133.650. O TCE constatou, na análise feita nas documentações da Fesp, a existência de "falhas e impropriedades" nos contratos, todos firmado sem licitação pública. (Com agências noticiosas)