Título: Portugal vai precisar de novo socorro de € 40 bilhões
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2012, Finanças, p. C1

Em Lisboa, a pressão aumenta por parte do setor privado, de sindicatos e da oposição para o governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho renegociar os termos do acordo de socorro de € 78 bilhões, para aliviar o impacto das medidas de austeridade numa economia em plena recessão.

No entanto, a mensagem do governo é de que o país vai cumprir "rigorosamente"" o que assinou, procurando afastar o cenário da Grécia, de total perda de desconfiança dos fornecedores de ajuda.

Portugal sequer se juntou a vários países da zona do euro, como Itália e Espanha, que questionam abertamente a abordagem de austeridade defendida pela Alemanha e pedem medidas para revigorar o crescimento econômico no bloco.

Mas para analistas, a posição do governo é insustentável e o país inevitavelmente será levado a renegociar a extensão dos prazos de financiamento, pelo menos. Portugal não será capaz de voltar ao mercado e lançar títulos de dívida de longo prazo no ano que vem, como está previsto no seu pacote de socorro dado pelo FMI, União Europeia e Banco Central Europeu (BCE).

Isso significa que o país precisará de novo pacote de socorro para assegurar seu financiamento pelos próximos três anos. Antonio Saraiva, presidente da Confederação Portuguesa de Indústrias, tem insistindo que o país necessita de € 30 bilhões adicionais, para evitar um colapso da economia.

Analistas de bancos em Lisboa consideram que o montante necessário é maior e suas avaliações estão em linha com a estimativa de € 40 bilhões da consultoria britânica Capital Economics.

O governo de Pedro Passos Coelho enfrenta mais dificuldades para implementar o ambicioso programa de consolidação fiscal de mais de 6% do PIB no segundo ano de profunda recessão, até porque não parece ter sido bem contabilizado o déficit de certas empresas do setor público, como o de transportes.

O PIB declinou 1,5% no ano passado e a expectativa é de uma contração de 3,5% este ano. E Portugal terá de alcançar a meta de 4,5% de déficit publico sem utilizar medidas excepcionais como usar os ativos de fundos de pensão dos bancos como no ano passado.

Apesar de progressos para controlar seu gigantesco déficit, o pagamento de juros sobre os títulos da dívida continuam acima do que no momento em que Portugal pediu seu primeiro pacote de socorro, parcialmente refletindo o fato de que as agências de classificação de riscos consideram os papéis portugueses como "junk"".

A expectativa é de que a recessão em Portugal poderá demorar mais do que o FMI e a UE preveem e a dívida subir para o equivalente a 130% do PIB nos próximos anos.