Título: Custo das reservas é de R$ 10,8 bi
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Finanças, p. C1

A manutenção das reservas internacionais custou R$ 10,868 bilhões no primeiro trimestre de 2006, segundo balanço do Banco Central, divulgado pela instituição. A autoridade monetária registrou prejuízo de R$ 11,742 bilhões no período, a maior parte dele em decorrência de perdas com moedas estrangeiras.

A Lei de Responsabilidade Fiscal determina que, periodicamente, o BC divulgue os custos de manter reservas internacionais. No primeiro trimestre, ele foi estimado em 8,67% do volume de reservas. As contas são feitas todas em reais - inclusive o valor médio das reservas, calculado em R$ 125,352 bilhões. Em dólares, no primeiro trimestre, o BC elevou o volume de reservas de US$ 53,799 bilhões para US$ 59,824 bilhões (anteontem, estavam em US$ 56,797 bilhões).

Para chegar ao custo de manutenção, é calculada, de um lado, a rentabilidade de suas aplicações no exterior, descontada a variação cambial; de outro, é calculado o custo médio de captação do BC. No primeiro trimestre, as reservas tiveram rentabilidade negativa em reais, de 6,32%. O resultado é desfavorável porque, no período, houve desvalorização do dólar e outras moedas estrangeiras - nos quais estão aplicadas as reservas - em relação ao real (a moeda nacional se valorizou 7,19% ante o dólar no primeiro trimestre). A outra variável usada no cálculo é o custo médio de captação do BC, que ficou em 2,35% no período.

O custo de manutenção das reservas aumentou em relação aos R$ 5,33 bilhões observados no primeiro trimestre de 2005, embora o volume médio de reservas de então - R$ 153,592 bilhões - fosse maior que o atual.

Do prejuízo de R$ 11,743 bilhões registrado pelo BC no primeiro trimestre, R$ 9,145 bilhões se referem a operações com moedas estrangeiras. Já as receitas com juros superaram as despesas em R$ 960 milhões. O resultado negativo deverá ser coberto pelo Tesouro, caso não seja revertido até o encerramento do semestre. No primeiro trimestre de 2005, o BC registrou em balanço um prejuízo de R$ 301 milhões.

A contínua valorização do real tem levado o BC a registrar prejuízos nos seus balanços, mas isso não significa, necessariamente, que esteja havendo perdas, quando são consideradas o conjunto de ativos e passivos da União, incluindo Tesouro. Se, no caso do BC, há ativos em dólar, o Tesouro é devedor em moeda estrangeira. Isso faz com que o impacto das oscilações da taxa de câmbio seja reduzido.

Desde fins de 2003 o BC coloca em prática um programa de recomposição das reservas internacionais e redução dos passivos em dólar, que já levou, segundo cálculos do mercado, o governo a assumir uma posição comprada em dólares. Isso significa que, cada vez mais, valorizações do câmbio levem a perdas.

O argumento apresentado pelo BC para seguir com a sua compra de moedas é que o acúmulo de reservas internacionais reduz a vulnerabilidade externa, diminuindo também o risco-país. Esses ganhos se traduziriam em custos menores de captação tanto para as empresas privadas quanto para o próprio Tesouro. Também representariam menos prejuízos ao crescimento econômico quando há estreitamento da liquidez internacional.