Título: Morno, debate mira governo
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 01/10/2010, Política, p. 6

Último encontro dos presidenciáveis é marcado por ataques de Serra, Marina e Plínio à administração do PT. Dilma se livra de questões complicadas

Enviada especial

Rio No último encontro dos presidenciáveis nesta campanha eleitoral, o debate promovido pela TV Globo, acabou sobrando para o governo. Em uma tentativa de atingir a líder das pesquisas, a petista Dilma Rousseff, os adversários José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol) tentaram mostrar as falhas da atual administração do partido, o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O esperado duelo entre Dilma e Serra não aconteceu. E em nenhum momento o recente escândalo da Casa Civil, que culminou com a demissão da ex-ministra Erenice Guerra, foi citado, facilitando a vida da presidenciável petista.

Entre uma e outra crítica ao atual governo, o time de cada candidato adotou a estratégia de apostar naquela avenida onde havia mais condições de obter votos e acertar o ponto fraco do adversário. Ao abrir o segundo bloco, por exemplo o candidato podia escolher o assunto a ser abordado , Dilma agiu para frear qualquer tentativa de crescimento de Marina. Perguntou sobre infraestrutura em especial, hidrovias e ferrovias. Queria, segundo a estratégia montada à tarde, poder falar das suas propostas e deixar nas entrelinhas uma questão: obras versus preservação.

Marina respondeu pregando uma proposta mais abrangente na infraestrutura e, quando chegou a sua vez de perguntar, dirigiu-se direto para Serra, atirando para ver se conquista uma eventual vaga no segundo turno, que hoje estaria nas mãos do tucano. Serra, que criticou o governo em todas as oportunidades, aproveitou para falar dos projetos que fez como governador de São Paulo.

Morno, o debate não conseguiu catapultar nem mesmo o franco-atirador Plínio de Arruda Sampaio, estrela de encontros anteriores. O candidato do PSol improvisou na maioria das vezes, usou um longo tempo para pedir votos aos deputados da sua legenda e abordou a questão das doações de campanha. Nesse momento, a resposta de Dilma provocou risos da plateia: Nossas doações oficiais estão registradas, iniciou. Diante da manifestação do público, a candidata do PT, irritada, continuou: Nossas doações são todas oficiais. Lamento o riso de quem tem outras práticas, emendou.

Os risos vieram de uma plateia realmente seleta. No estúdio, ficaram apenas os convidados da TV Globo e dos partidos. No lado direito, ficou o PSol, seguido pela equipe petista, o candidato a vice, Michel Temer, o governador do Rio, Sérgio Cabral, e ministros do governo, como Márcio Fortes (Cidades), Márcia Lopes (Desenvolvimento Social) e Nilceia Freire (Secretaria das Mulheres). Mais adiante, no auditório, no lado esquerdo, os convidados da emissora e, na ponta da arena, os tucanos, que compareceram em peso, com destaque para Aécio Neves, de Minas Gerais, e Geraldo Alckmin, candidato a governador em São Paulo. Esse debate é decisivo. Há uma onda que surge, um sentimento pelo segundo turno. Para o Brasil, seria excepcional o segundo turno, candidatos sem biombos, sem proteção excessiva, disse Aécio.