Título: UE pode ampliar cotas para carnes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Brasil, p. A3

A flexibilidade na área agrícola oferecida pelo comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, ao ministro Celso Amorim, esta semana, ampliaria entre 90 mil e 180 mil toneladas as cotas de carnes bovina e de frango no mercado comunitário, avaliam fontes.

Mandelson prometeu melhoras em um dos problemas centrais da negociação agrícola: o tratamento para produtos que serão designados como sensíveis, ou seja, que continuarão tendo proteção forte com altas tarifas contra as importações. Mas ele advertiu que tinha pouco a oferecer. Os brasileiros interpretam isso como disposição para negociar a expansão de cotas, tomando como base um cálculo complicado pelo qual corte de tarifa e redução de preço de 10% teriam como consequência aumento da demanda européia entre 20% e 40% - bem maior que os 8% admitidos pelos europeus até então.

Existe expectativa entre exportadores de que a UE aceite corte médio de tarifas nos produtos ditos normais de 45%, acima dos 39% da oferta atual. O G-20 propõe corte médio de 54% e os EUA, de 75%.

Nos EUA, a coalizão de 200 multinacionais e associações industriais conhecida como ABCDoha advertiu para o fracasso da Rodada Doha se a negociação conduzir a um acordo pouco ambicioso de liberalização e reformas no comércio global. O tom foi o mesmo na última entrevista de Rob Portman como chefe da representação comercial dos EUA. Ele contestou a afirmação de Amorim de que se caminha para um acordo agrícola com base na proposta do G-20.

Na negociação industrial, os EUA insistem em fórmula de corte tarifário com coeficiente 15 - o Brasil defende o coeficiente 30 (quanto mais alto o coeficiente, menor o corte de alíquota). Pelo coeficiente 30, segundo Portman, haveria corte de apenas 3% a 6% nas tarifas aplicadas em países como Egito e Índia. O coeficiente 15, argumentou ele, exigiria redução média de 14% a 30% nas tarifas aplicadas nos países em desenvolvimento e de 35% nos países ricos.