Título: Câmara e Conselho de Ética absolvem deputados
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Política, p. A5

A Câmara viveu ontem mais um dia de absolvições de parlamentares acusados de envolvimento com o mensalão. No plenário, Josias Gomes (PT-BA), réu confesso do recebimento de recursos de Marcos Valério de Souza, salvou-se com 228 votos favoráveis à cassação do mandato contra 190 pela absolvição (19 abstenções, um nulo e cinco brancos). Eram necessários 257 para o petista perder o mandato. No Conselho de Ética, na primeira votação de mensaleiros depois da renúncia coletiva de integrantes do colegiado, Vadão Gomes (PP-SP) foi absolvido por confortável margem de votos: 8 a 5 e uma abstenção.

O plenário rejeitou o relatório do deputado Mendes Thame sobre Josias Gomes. Mais uma vez o quórum ajudou o acusado: 70 deputados não participaram da votação. Foi o décimo parlamentar acusado de envolvimento com o mensalão a escapar da cassação. O petista admitiu ter recebido R$ 100 mil das contas de Marcos Valério no Banco Rural. O deputado, inclusive, entregou cópia da carteira de parlamentar quando fez o saque na agência bancária. Durante todo o processo, esse fato foi a justificativa principal para Josias argumentar ter agido de boa-fé.

Thame não acatou a justificativa. "A procedência dos recursos não é contabilizada. Portanto, não é legal. Não há dúvida de que é dinheiro de caixa 2 ou, como referido na forma criativa da qualificação dada pelo ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, recursos não contabilizados", disse, da tribuna do plenário.

Josias argumentou que recebeu a quantia do PT e a repassou a candidatos a prefeito na Bahia. Foi um intermediário e não cabia a ele prestar contas. "A lei não deixa dúvidas, os agentes responsáveis pela doação e pelo recebimento têm a obrigação de declarar e prestar contas. Como sempre declarei, apenas recebi da Tesouraria Nacional do PT e repassei as importâncias para os candidatos não eleitos e endividados no pleito de 2002", afirmou.

No Conselho de Ética, pela primeira vez a nova formação do colegiado foi colocada à prova para votar o destino de colegas supostamente envolvidos com o mensalão. Vadão é acusado de receber R$ 3,7 milhões do valerioduto. Ele nega o recebimento do dinheiro. O nome dele constava da lista de beneficiários do esquema encaminhada por Marcos Valério à CPI dos Correios. Na época, o empresário mudou a versão sobre o pepista. Primeiro, afirmou ter depositado a quantia em sua conta bancária. Depois, afirmou ter repassado o dinheiro em um hotel, do qual não se recordava o nome.

Ontem, com o PT fortalecido depois da renúncia de alguns integrantes do conselho em protesto contra as absolvições no plenário, Vadão não teve problemas para escapar. O relatório de Moroni Torgan (PFL-CE), que pedia a cassação do colega, recebeu voto favorável dos dois tucanos da comissão - Affonso Camargo (PR) e Zenaldo Coutinho (PA) -, do integrante do PPS, Cláudio Magrão (SP), e de Ann Pontes (PMDB-PA). Os três integrantes do PT - Anselmo (RO), Neyde Aparecida (GO) e Eduardo Valverde (RO) - votaram pela absolvição. Agora, um voto pela absolvição de Vadão terá de ser apresentado e votado no Conselho para depois ser levado ao plenário. Valverde será o relator do voto pela absolvição.