Título: Presidente diz ter feito mais do que imaginava poder fazer
Autor: Costa, Raymundo e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou, durante discurso na abertura da 16ª Reunião Regional Americana da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Brasília, mais uma vez os números de sua plataforma eleitoral. Citou empregos criados e universidades construídas, criticou seus antecessores que comandaram duas décadas "perdidas ou estagnadas" e afirmou que não é possível fazer tudo o que se pretende em quatro anos de mandato. Mas acrescentou: "Uma coisa vocês podem ter certeza, o que nós fizemos em 39 meses foi muito mais do que eu imaginei que a gente poderia fazer", afirmou.

Lula aconselhou o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, a analisar a economia brasileira, lembrando que o país viveu 20 anos de estagnação. "Tivemos primeiro a década perdida, de 1980 a 1990. Depois tivemos a década da estagnação. Em dez anos, não fizemos outra coisa a não ser desmontar todo o aparato industrial do Estado que nós tínhamos, privatizando e não colocando nada no lugar, onde nós tivemos alto índice de desemprego jamais visto na nossa história".

Lula afirmou que "recuperar esse tempo perdido, possivelmente leve mais que um mandato de um presidente da República, ou, quem sabe, leve décadas para que a gente possa recuperar os malefícios causados pelo descaso no tratamento das gerações futuras". Mas o presidente deixou de lado a modéstia e disse que, em seus 39 meses de governo (na verdade são 40), em todos houve crescimento consecutivo na geração de empregos. "Trinta e nove meses consecutivos, com uma média de empregos dez vezes mais do que os outros anos que antecederam o nosso governo".

O presidente disse que seu governo, "por obrigação, não por mérito", avançou muito na área trabalhista. Destacou o avanço político e democrático da América Latina, apesar de que, nem sempre, esses avanços tenham vindo acompanhados de crescimento econômico. "Até porque não é possível fazer o crescimento acontecer também por mágica, é preciso que a gente crie condições para que o país cresça de forma sustentável".

Lula também criticou os seus antecessores, alegando falta de investimentos em educação. "Nós nunca fizemos porque em muitos países não foi prioridade acreditar no seu próprio povo. Nunca fizemos porque a elite dirigente já estava formada. E se ela já estava formada, para que se preocupar com os outros?" O presidente enumerou que seu governo está construindo quatro universidades, transformando seis faculdades em universidades, espalhando 43 extensões universitárias por todo país e fazendo 32 escolas técnicas.

Lula lembrou o hábito político, disseminado na América Latina, de atribuir aos outros, especialmente "ao imperialismo europeu ou americano", o fracasso do continente. "Mas se nós assumirmos a nossa culpa, a sociedade vai descobrir que não são os outros que são culpados, somos nós. E aí, eu quero que o povo não perca a esperança de consolidar a democracia, que é um regime complicado, mas é o melhor que eu conheço até agora", disse o presidente, parafraseando o ex-primeiro ministro inglês, Winston Churchill. (PTL)