Título: Para Lula, população é vigilante da imprensa
Autor: Costa, Raymundo e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Política, p. A7

Ao assinar a Declaração de Chapultepec, defendendo a liberdade de imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem, que, enquanto ele estiver no cargo, "os jornalistas serão cada vez mais livres, cada vez mais poderão dizer o que quiserem, porque não haverá, da parte do governo, nenhuma censura". Apesar das relações tumultuadas entre imprensa e governo ao longo dos três anos de mandato, Lula afirmou "que nunca pegou um telefone, enquanto presidente da República, para ligar para qualquer empresário ou jornalista reclamando de alguma coisa".

O presidente alertou, porém, que a sociedade está atenta para saber o que é certo ou errado nas publicações diárias dos meios de comunicação. "Nós colocamos num segundo plano algo que é a sabedoria daqueles que vêem televisão, daqueles que lêem jornais e daqueles que ouvem rádio". Segundo o presidente, é preciso acreditar que o povo, por si só, "consegue fazer diferenciação daquilo que é correto, daquilo que não é correto, daquilo que acha que é verdade, daquilo que acha que é exagero".

O presidente disse que é essa sabedoria da sociedade que lhe dá a tranqüilidade para assinar uma carta defendendo a liberdade de imprensa. "A liberdade de imprensa é a razão pela qual eu cheguei à Presidência da República; a liberdade da imprensa é a razão pela qual as instituições brasileiras dão demonstrações mais sólidas de crescimento e sustentabilidade democrática".

Lula defendeu que não apenas os presidentes da República, mas os governadores, os prefeitos, os jornalistas e os donos de jornais têm que perceber "que não há mais espaço para que a gente compreenda, de uma vez por todas, que quanto mais poder nós temos, mais responsabilidade nós temos que ter". O presidente lembrou que "nunca houve um momento em que, quando as coisas não estivessem boas, a imprensa não se transformasse em uma vilã".

Mas reforçou que os veículos de comunicação estão subordinados "à compreensão daqueles que lêem, daqueles que assistem e daqueles que ouvem, e os governantes estão à mercê do julgamento daqueles que votam no país". Para Lula, se todos entenderem esse jogo, será possível construir a mais "sólida democracia e a mais sólida liberdade de imprensa deste mundo".