Título: Petrobras diz que não investirá mais na Bolívia
Autor: Góes, Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Especial, p. A9

Gabrielli, da Petrobras: Bolívia tem interesse em manter as vendas do gás Após o governo brasileiro ter evitado o confronto com a Bolívia por causa da nacionalização das reservas de gás, foi a vez de a Petrobras partir ontem para o ataque. O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, disse que a empresa não concorda em alterar os preços do gás importado da Bolívia. "Vamos lutar contra aumento de preços. No âmbito do contrato em vigor, vamos resistir e rejeitar aumentos nos preços", afirmou Gabrielli.

Ele descartou riscos no fornecimento de gás natural para o mercado brasileiro, e anunciou que a Petrobras decidiu retirar a proposta para ampliar a capacidade de transporte do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol) em 15 milhões de metros cúbicos por dia. Hoje, o Gasbol tem capacidade para 30 milhões de metros cúbicos/dia e transporta cerca de 26 milhões de metros cúbicos/dia.

Para Gabrielli, o volume atual de fornecimento de gás, previsto em contrato, será garantido porque, apesar do decreto de nacionalização, a estrutura regulatória na Bolívia continua vigente e válida. A venda do gás é um dos objetivos da Bolívia, disse. E acrescentou que o decreto foi uma forma de aumentar a arrecadação e a participação do Estado boliviano na receita com as vendas de gás e petróleo. "Há interesse em manter as vendas do gás", disse Gabrielli.

O executivo afirmou que existe um aspecto estratégico para a Bolívia, que é o fato de uma eventual redução na produção de gás afetar diretamente a produção de condensado e derivados (gasolina, diesel e GLP). Ele negou que exista uma crise entre Brasil e Bolívia, e definiu que o que está em jogo é uma disputa entre Petrobras e a estatal YPFB. Afirmou que a Petrobras tentará esgotar os canais de negociação para evitar o aumento dos preços do gás importado da Bolívia. Se não houver entendimento, a empresa recorrerá à arbitragem internacional em Nova York.

Gabrielli disse que a Petrobras comunicou ao mercado que os ativos da empresa na Bolívia tem valor contábil de US$ 1,3 bilhão, mas, tirando as dívidas com credores, o patrimônio líquido da Petrobras Bolívia é de cerca de US$ 365 milhões. "Temos seis meses para entrar em detalhes sobre o que acontecerá com a dívida e sobre o justo valor dos investimentos." Afirmou que o decreto de nacionalização limita o controle da YPFB a 50% mais uma das ações, apenas aos ativos de refino da Petrobras no país.

Gabrielli aproveitou para criticar os que consideram errada a estratégia de negociação da empresa na Bolívia: "Quais alternativas a Petrobras tinha? Partir para um confronto? Chamar mercenários? Convocar o apoio do Exército brasileiro ou sentar à mesa como empresa constituída e negociar?"

Em relação à política de investimentos da empresa na Bolívia, onde já investiu cerca de US$ 1 bilhão, Gabrielli foi enfático: "Estamos suspendendo qualquer possibilidade de investimento adicional na Bolívia." Afirmou que não se trata de represália à nacionalização das reservas, um direito que a empresa entende como legítimo, mas uma questão de análise econômica. "Fizemos propostas à YPFB, que previam agregar valor a projetos na Bolívia, com participação da Petrobras, incluindo o pólo gás-químico, a produção de fertilizantes, redes de gasodutos nas cidades e formação de mão-de-obra técnica. Isso tudo estava em um memorando de entendimento com a YPFB, que agora não existe mais."

Ele afirmou que, na expansão do Gasbol, prevista pela Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), responsável pela operação do duto no país, a Petrobras ofereceu expandir a capacidade em 15 milhões de metros cúbicos/dia, enquanto outras empresas ofereceram ampliação maior: 21 milhões de metros cúbicos/dia. O executivo disse que a expansão do gasoduto está vinculada ao aumento da produção, o que implica novos investimentos no país, o que não está no cenário da empresa.