Título: Aumento de preços pressiona Petrobras
Autor: Schüffner ,Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2012, Empresas, p. B7

O embargo da União Europeia ao petróleo iraniano como represália ao programa nuclear daquele país vai pôr mais pressão sobre os preços da gasolina e diesel comercializados pela Petrobras no Brasil. Tanto o petróleo tipo Brent, usado como referência na Europa, como o WTI, do mercado americano, estão subindo rapidamente. O Brent chegou a ser cotado a US$ 125 na sexta-feira e os contratos para entrega em maio fecharam o dia cotados em US$ 124,48 o barril depois que a Agência Internacional de Energia Atômica divulgou um relatório mostrando um aumento do programa nuclear do Irã e da produção de urânio enriquecido.

No ano, a alta do Brent já chega a 16,48%, ante 12,03% nos últimos 12 meses. Em euro, a cotação na sexta também foi a maior desde julho de 2008. A nova crise internacional do petróleo ocorre em um momento em que a Petrobras está com preços defasados e aumentou importações, pagando em dólar e a preços internacionais pelos derivados trazidos do exterior para suprir o mercado interno.

Essa combinação de fatos aumentou o processo de sangria das receitas da companhia e deve ficar mais crítica com a nova alta dos preços internacionais. A estatal vinha deixando de elevar suas receitas por não vender derivados no Brasil pelos preços que obteria se fossem oferecidos no mercado internacional. Mas, com a retomada de pesadas importações, o impacto dos subsídios passou a ser sentido direto no caixa.

Os resultados da atual política de preços são difíceis de mensurar, pois a Petrobras não divulga detalhes de sua política comercial. Mas não faltam projeções. O Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) calcula que a estatal teve prejuízo de R$ 3,7 bilhões somente com importações de gasolina e diesel em 2011, valor que pode subir para R$ 6,1 bilhões em 2012. O economista Adriano Pires destaca que o impacto pode ser maior, já que os cálculos foram feitos tomando como base a cotação de US$ 100 o barril de petróleo, com o câmbio a R$ 1,80 e sem considerar reajustes de preços no mercado doméstico.

"Estamos prevendo um crescimento de 20% das vendas, inferior aos 24% de 2011, e crescimento de 240% nas importações em 2012, o que é conservador, já que em 2011, em relação ao ano anterior, elas cresceram 300%. O problema da Petrobras é que sua capacidade de refino bateu no teto e qualquer crescimento adicional será por meio de importações até que as novas refinarias fiquem prontas", afirma Pires, para quem as perdas totais da Petrobras este ano podem ficar entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões.

Um relatório do Bank of America (Bofa) Merrill Lynch, divulgado na sexta-feira, lembra que se o petróleo continuar subindo poderá prejudicar a meta do Brasil de obter um superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012. Isso porque há riscos ascendentes de uma transmissão dos preços dos combustíveis para a inflação. O analista Marcos Buscaglia, autor do relatório, vê poucos mecanismos para controlar um eventual aumento dos preços. E cita apenas duas possibilidades: a redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) ou da mudança do percentual de mistura de etanol na gasolina, ressaltando que elas podem prejudicar a meta de inflação.

A estimativa do Bofa é que os preços da gasolina no Brasil estão com 15% de defasagem em relação aos preços internacionais, enquanto no diesel é de 13%. Esse "desconto" é maior do que a defasagem de 5% e 3%, respectivamente, que existia em março de 2011.

O cenário global pode piorar a partir de 1º de julho, quando entra em vigor o embargo que pode reduzir entre 500 mil e 700 mil barris ao dia - as estimativas variam - as importações dos países membros da União Europeia originárias do Irã. Adicionalmente, os Estados Unidos ameaçam com sanções a quem furar o embargo, o que deve reduzir as compras da India.

Na Zona do Euro, o Deutsche Bank aponta que as maiores reduções das importações serão da Itália (190 mil barris), Espanha (160 mil) e Grécia (120 mil). Esses países já começaram a cortar importações do Irã, que foi substituído pela Arábia Saudita, maior produtor do mundo. O reino saudita tem capacidade ociosa de produção de 2 milhões de barris ao dia, o equivalente à capacidade de produção da Petrobras.

Greg Priddy, diretor global da área de petróleo da consultoria Eurasia Group destaca que nos últimos dois meses houve alta de 300 mil barris nas exportações de petróleo leve da África em direção à China, enquanto, em fevereiro, o Irã exportou 400 mil barris a menos. Ele chama a atenção para o fato de a China ter motivações comerciais para a medida, pois a trading estatal Unipec estava em renegociação do contrato de venda a termo entre os dois países concluído semana passada. Agora, segundo Priddy, a expectativa é de que o Irã tente cooptar compradores, reduzindo seus preços. Para o mercado, essa nova tensão está longe de um desfecho.