Título: Obama sob pressão para usar estoques de petróleo
Autor: Chazan ,Guy
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2012, Internacional, p. A13

O governo Obama está sob crescente pressão para segurar os preços do petróleo via liberação de estoques emergenciais. Mas críticos afirmam que essa seria a resposta errada ao problema errado na hora errada.

Os preços do petróleo atingiram US$ 125 o barril na sexta-feira, o maior nível em nove meses, alimentando o temor de que um novo choque do petróleo possa ameaçar a recuperação da economia dos Estados Unidos. A alta foi puxada por um relatório da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU), que afirmava que o Irã aumentou significativamente sua produção de urânio com alto grau de enriquecimento nos últimos seis meses.

O preço do petróleo elevou as especulações de que os EUA e seus aliados poderão repetir a liberação coordenada dos estoques de petróleo no terceiro trimestre de 2011, para compensar a perda de fornecimento pela Líbia. Isso levou a uma queda de 8% nos preços.

Na sexta-feira, Tim Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, disse que "há justificativas" para a liberação de petróleo das reservas estratégicas americanas "em certas circunstâncias" - uma mudança significativa para uma administração que até agora vinha descartando outra liberação.

O que desencadeou a mudança foi a alta consistente dos preços da gasolina, com a média nacional hoje em US$ 3,68 o galão - o maior patamar registrado em fevereiro.

"Nada apavora mais um presidente do que a alta dos preços da gasolina, que no caso do presidente Obama poderá colocar em risco a recuperação econômica e torpedear suas chances de reeleição", diz Robert McNally, presidente da consultoria Rapidam Group, especializada em energia, e ex-funcionário da Casa Branca.

As pressões por uma intervenção estão aumentando, diz John Shages, presidente da consultoria Strategic Petroleum Consulting, que supervisionou os estoques estratégicos de petróleo dos EUA entre 2004 e 2007. "Se os preços do petróleo continuarem subindo do jeito que estão, logo eles terão um impacto sobre a atividade econômica", disse ele. "Eu ficaria desapontado se tivéssemos uma repetição de 2008, quando os preços do petróleo chegaram a US$ 147 o barril e nós não fizemos nada."

A ideia é interessante para membros do partido de Obama. Na semana passada, três congressistas democratas escreveram para o presidente encorajando-o a recorrer aos estoques estratégicos. Mesmo assim, alguns analistas e autoridades afirmam que recorrer às reservas não resolveria a principal causa da alta dos preços: o aumento das tensões em relação ao programa nuclear do Irã.

Liberações anteriores dos estoques de emergência ocorreram em resposta a ameaças ao abastecimento mundial: a guerra do Kuait em 1991, o furacão Katrina em 2005 e a perda do petróleo líbio no ano passado. Por outro lado, os atuais problemas de abastecimento estão sendo provocados pelas sanções ocidentais contra o Irã.

"O problema é que a alta dos preços do petróleo que estamos vendo está sendo motivada pela política externa, e não pelos fundamentos da oferta e da procura", disse uma autoridade britânica do setor de energia.

O uso das reservas estratégicas também seria diplomaticamente arriscado, podendo tensionar as relações entre o Ocidente e o cartel dos países produtores, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que veria a medida como uma arma política.

Analistas afirmam que, antes de o Ocidente considerar uma nova liberação, deveria olhar primeiro para a Arábia Saudita para aliviar a tensão do mercado com um aumento da produção. Mesmo assim, a produção de petróleo saudita já está no maior patamar em 30 anos, à medida que o reino tenta compensar a redução das compras de petróleo do Irã por países que aderiram a sanções.

A Agência Internacional de Energia (AIE), que coordenou as três últimas liberações, minimizou a ideia de uma nova iniciativa emergencial. Em nota recente, Maria van der Hoeven, diretora-executiva da AIE, disse que a agência está monitorando a situação e "sempre está pronta para responder em caso de uma grande interrupção do fornecimento", mas "essa interrupção ainda não ocorreu e portanto nenhum plano de resposta específico está preparado".

Mesmo assim, operadores disseram que pequenas interrupções de fornecimento - no Sudão, Síria, Iêmen e no Mar do Norte - vêm contribuindo para o aperto do mercado, potencialmente justificando uma intervenção.

A maioria dos analistas crê que países da AIE estão ao menos avaliando a possibilidade de tal medida. "Acho que seria uma surpresa se isso não estivesse sendo o pensamento central de várias capitais", disse Ed Morse, diretor de análises de commodities do Citigroup.

Outros acreditam que os EUA e seus aliados deveriam intervir apenas em uma emergência real - por exemplo, uma decisão do Irã de fechar o estreito de Hormuz. "A preocupação é que haja uma grande interrupção mais para o fim do ano e o governo possa querer se precaver disso", diz McNally da Rapidan. "Fazer isso agora seria cedo demais."