Título: Amorim acredita em avanço na negociação
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2006, Brasil, p. A4

Faltando uma semana para uma reunião ministerial que pode decidir o fiasco ou continuação da negociação para liberalizar o comércio internacional, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é particularmente cuidadoso na hora de falar sobre as expectativas brasileiras. Enquanto tomava café no "Bar da Imprensa" do Palácio das Nações, ontem em Genebra, Amorim evitou o termo "otimista" e preferiu dizer-se "esperançoso" sobre a possibilidade de "avanço" na direção de acordo para cortar tarifas e subsídios agrícolas e industriais até o fim de julho.

"Se não estivesse esperançoso, nem voltava aqui na semana que vem", argumentou. Sua indicação mais positiva são as recentes declarações do presidente americano, George W. Bush, de que Washington aceita corte real nos subsídios agrícolas. O telefonema de Bush ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é visto como sinal de engajamento para concluir Doha no prazo.

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Adelaide (Austrália) com negociadores em Genebra mostrou que a maioria não crê em acordo nas próximas semanas. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, recusa, no momento, esse cenário. Ele insiste que o que se espera dos ministros na semana que vem é um acordo sobre modalidades - a maneira de fazer os cortes. Não é o acordo agrícola e industrial final. Até porque, ao seu ver, as tarifas de muitos produtos serão negociadas bilateralmente.

Para se chegar a um compromisso, Lamy só vê um caminho: que os principais membros -- EUA, UE, Brasil, Índia, Japão - aceitem cortes reais de tarifas e subsídios. O problema é que a situação continua perigosamente idêntica à de meses atrás. Os europeus sinalizaram o que estão dispostos a conceder na agricultura. É considerado pouco, mas pelo menos há movimento. Já do lado dos EUA, nem isso. Os americanos têm uma posição delicada: são ofensivos em acesso ao mercado (ou seja, querem amplos cortes em tarifas agrícolas), mas ao mesmo tempo são defensivos em subsídios domésticos (resistem a cortar bilhões de dólares de ajuda aos agricultores).

Quanto ao Brasil, a mensagem do presidente Lula ontem a Bush era de que o país está pronto a fazer sua parte, o que significa aceitar cortes reais nas tarifas de importação de produtos industriais - mas de forma proporcional ao nível de desenvolvimento. Além disso, o Brasil insiste que não há nem como comparar as reduções pedidas aos EUA e à UE com aquelas ao Brasil e Índia, por exemplo.

Para Amorim, pode sair algum "avanço" na semana que vem em Genebra. "O que sobrar, se poderia discutir entre chefes de Estado" na reunião do G-8 com seis emergentes convidados, incluindo Brasil, em julho na Rússia.