Título: Lula decide adiar escolha do vice
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2006, Política, p. A8

Lula em Santo Amaro da Purificação: assessores estão preocupados em separar as agendas administrativa e eleitoral do presidente no perído de campanha A cinco dias da convenção nacional do PT, que irá homologar sua candidatura, no dia 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente confirmou aos ministros do núcleo político do governo, ontem, que concorrerá realmente à reeleição. Durante reunião da coordenação realizada na manhã de ontem no Palácio do Planalto, Lula pediu aos ministros que separem a agenda oficial de presidente dos compromissos de candidato. "A determinação do presidente é de que iniciemos essas medidas a partir da próxima semana", disse o ministro da coordenação política, Tarso Genro.

A mesma reunião que serviu a uma definição da candidatura a presidente, levou a um recuo quanto ao candidato a vice. Genro reconheceu que ainda não há definição sobre um nome. Segundo ele, o PT deverá confirmar Lula na convenção de sábado, mas pode deixar para homologar a chapa apenas no fim do mês. "Os partidos ainda não definiram de maneira completa, legal, se vão ou não vão fazer coligação. A questão do vice continua em aberto".

Genro foi cuidadoso quando questionado sobre os favoritos à vaga de vice de Lula. Diante da opção para apontar quem estaria mais próximo de ser o escolhido, se o atual vice, José Alencar (PRB) ou Ciro Gomes (PSB), o ministro incluiu um terceiro. "Não sei quem estaria mais próximo. Se Ciro Gomes (PSB), Eduardo Campos (PSB) ou José Alencar (PRB)", disse.

Para Tarso Genro, não há nenhum preconceito em relação a Alencar. A inclusão de Eduardo Campos na lista não se deve, segundo o ministro, a uma espécie de compensação, para afastá-lo da disputa do governo de Pernambuco, onde disputa o eleitorado com o candidato do PT. "Eu não vejo as coisas desta forma".

A separação das atividades de Lula-presidente e Lula-candidato é também uma questão delicada. Na avaliação do Planalto, o presidente poderá participar de atividades administrativas, que envolvam ações de governo, mas deve passar longe de inaugurações de obras, para não deixar brecha às acusações de uso da máquina pública na campanha eleitoral. "É um cuidado que o presidente pediu, porque temos uma legislação eleitoral que é rigorosa, boa, que preserva o interesse público. Não veda a reeleição, mas, evidentemente, exige dos gestores um cuidado muito intenso", acrescentou o ministro.

O próprio Genro acredita que a legislação eleitoral não proíbe que o presidente inspecione obras de seu governo. Ele entende que essa é uma função explícita de presidente. "Se eventualmente isso acontecer, tem que se ter um cuidado, para que isso não seja confundido nem utilizado como evento da campanha eleitoral e sim, como uma agenda normal do Executivo", acrescentou o ministro.

Genro negou, no entanto, que haverá uma intensificação, até o fim do mês, da agenda de inaugurações, já que a campanha eleitoral começará oficialmente a partir de julho. Ele garante que as constantes viagens presidenciais não têm caráter eleitoreiro. "O cenário destas obras, para valorizar o trabalho que está sendo feito pelo governo, seria feito com ou sem eleições", assegurou. Ele também afasta as suspeitas de que a estratégia seja uma maneira de diminuir as constantes ações impetradas pela oposição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): "Essas ações que estão tramitando nos tribunais são normais. O PT também fará isso, questionará todos os movimentos de nossos adversários".

Ontem, Lula esteve nos municípios baianos de Santo Amaro da Purificação, para a entrega das instalações do Cefet, e de Paiaiá, beneficiado com o programa Luz para Todos. Bem-humorado, o presidente cumprimentou populares e, numa breve parada diante dos jornalistas, brincou e perguntou se gostaram do jogo da Seleção.

Segundo o ministro, Lula balizou seu pedido no desejo de preservar o nível democrático e republicano do processo eleitoral. "Qualquer movimentação de uma pessoa no período eleitoral pode ser interpretada por alguém, algum grupo social, como uma referência para se prestar atenção politicamente naquela candidato ou partido político". Tarso Genro adiantou que a agenda do candidato Lula será controlada pelo comitê eleitoral e dos partidos que formarão a eventual coligação política de governo.

A intenção é concentrar as viagens presidenciais nos fins de semana, deixando as ações administrativas e os despachos com os ministros para o período de segunda a sexta-feira.