Título: Para analistas, cresce chance de um reajuste de combustíveis
Autor: Martins,Arícia
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2012, Brasil, p. A4

O preço da gasolina que sai das refinarias do Brasil está entre 18% e 26% mais barato do que no mercado externo. O cálculo de maior ou menor defasagem depende da qualidade e da origem do combustível utilizado para estimar essa relação e considera, sempre, o preço doméstico na refinaria, sem impostos. Além da defasagem crescente - a Petrobras corrigiu os preços no país em 2009 -, o recente aumento do preço no barril do petróleo fez crescer, entre os analistas econômicos, a aposta de que o preço interno será reajustado.

A maioria, no entanto, não espera um aumento que corrija toda a defasagem de preços entre o mercado doméstico e o externo. Se o reajuste for de 10% (um percentual considerado possível por alguns dos economistas), deve impactar em cerca de 0,4 ponto percentual o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os economistas também imaginam que a correção será feita no momento em que a inflação alcançar sua menor taxa em 12 meses para não ameaçar o ciclo de redução da taxa de juros, o que deve ocorrer no meio do ano.

Por enquanto, nenhum dos cinco economistas alterou sua projeção de inflação para 2012 a fim de incorporar o impacto de um eventual aumento dos combustíveis, cenário que até a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não estava no radar do Banco Central. Na ata daquele encontro, a autoridade monetária manteve a projeção de reajuste zero no preço da gasolina no acumulado do ano.

Nas contas da Rosenberg & Associados, a defasagem de preços entre a gasolina que sai da refinaria no Brasil e o preço internacional do combustível chega hoje a 26%. Se a Petrobras reajustasse a gasolina em 26% sem nenhuma redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), adicionaria mais 1,02 ponto percentual à inflação medida pelo IPCA, calcula Daniel Lima, da Rosenberg & Associados. Um aumento dessa intensidade, no entanto, está fora de cogitação pela consultoria, levando em conta a pressão inflacionária que causaria.

A Tendências trabalha com um reajuste em torno de 10%, que deve ocorrer no segundo trimestre sem contrapartida da Cide, já que o governo está empenhado em cumprir a meta "cheia" de superávit primário de 3,1% do PIB e não poderia abrir mão de nenhuma receita. Esse aumento, nas contas da economista Alessandra Ribeiro, impactaria o IPCA em 0,4 ponto percentual, mas não colocaria risco à trajetória de queda dos juros, já que seria visto pelo BC como um choque de oferta.

"Considerando a defasagem existente [entre preços internos e externos] e as boas notícias de inflação neste início de ano, há espaço para esse reajuste", diz Alessandra, que mantém sua projeção de IPCA em 5,45% para 2012. "A parte de commodities e combustíveis tem dado uma folga neste começo de ano. Não fosse essa questão da gasolina, minha projeção de IPCA poderia até ser revisada para baixo."

A deflação de 0,06% do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) em fevereiro, puxada principalmente pelos produtos agropecuários, foi vista sem surpresa, mas como um bom sinal por economistas. Segundo Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, a inflação na cidade de São Paulo, que recuou para 0,07% na terceira semana do mês, de acordo com o IPC-Fipe, também indica um momento mais favorável para a inflação.

Silveira não descarta pressão inflacionária vinda dos combustíveis com um aumento nas refinarias, mas, ao contrário de Alessandra, acredita que o governo ainda pode usar a Cide, como fez no ano passado, para atenuar os preços na bomba. Ele também não vê ameaça ao ciclo de redução da Selic, que estaria "garantido" por preços agrícolas mais tranquilos. Pelos seus cálculos, a diferença entre os preços externos e internos atingiu 18% em fevereiro nas usinas (ele compara o preço do Brasil com o vigente nos Estados Unidos). "A correção vai ser só um pedaço desse percentual", afirma ele, que projeta IPCA de 4,8% em 2012.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, quem está trabalhando com números mais baixos para o IPCA terá que retornar para a faixa dos 5,5% - exatamente sua projeção - diante da iminência de um reajuste da Petrobras, que será feito em meados do ano, quando o IPCA em 12 meses estiver menos pressionado. "Essa não é uma decisão econômica, mas sim política", comenta Vale. Acrescentando todos os impactos do aumento no atacado, diz o analista, o saldo final poderia ser meio ponto percentual a mais no IPCA.

A Quest Investimentos não conta com reajuste nos preços da gasolina em sua projeção de 5,1% para o IPCA em 2012, segundo o economista Fabio Ramos. "Não temos nenhum palpite. É melhor esperar". Se houver um aumento de 10% nas refinarias, Ramos calcula que o impacto no IPCA poderia ser de 0,3 a 0,4 ponto percentual. Ontem, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo não cogita reajustar o preço dos combustíveis.